Marielle Franco foi assassinada há dois anos
Dois ex-polícias foram presos no ano passado acusados de serem os autores do crime.
Os assassínios da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, completam este sábado dois anos sem que pareça estar-se perto de responder à principal pergunta sobre os crimes, quem mandou cometê-los. Marielle e Anderson foram abatidos friamente com uma rajada de arma de guerra às 21 e 30 do dia 14 de Março de 2018, quando o carro em que seguiam foi alcançado pelo dos assassinos numa rua do bairro do Estácio, na região centro-norte da cidade do Rio de Janeiro, depois de ser seguido discretamente por vários bairros.
Dois ex-polícias, o sargento Ronnie Lessa e o soldado Hélcio Queiroz, foram presos no ano passado acusados de serem os autores das execuções e continuam reclusos numa penitenciária federal de alta segurança. De acordo com a polícia e o Ministério Público, Lessa, que era vizinho do presidente Jair Bolsonaro num condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, foi quem disparou a rajada, que matou ao mesmo tempo a vereadora, que ia no banco de trás do automóvel, e o motorista, e Hélcio era quem conduzia o carro, que fugiu em alta velocidade após o brutal crime.
Se a autoria das execuções parece clara, o mandante ou os mandantes dos crimes até hoje não foram identificados. Vários políticos do Rio de Janeiro foram inicialmente averiguados como mandantes, um deles chegou a ser detido por duas vezes por algumas horas, mas não foi possível reunir provas suficientes contra nenhum deles.
Uma imensa teia de cumplicidades nos meios políticos e até policiais parece justificar essa morosidade em se chegar a quem mandou matar a vereadora, quinta mais votada nas municipais do Rio de Janeiro em 2016 e eleita pelo PSOL, Partido Socialismo e Liberdade. Nascida na favela da Maré, negra e lésbica, Marielle fugiu à rotina de quem tem contra si tantas contrariedades, conseguiu formar-se em Sociologia numa das melhores universidades do Rio e ser eleita vereadora.
A voz dela começou a gritar por direitos para pessoas que nascem ou vivem na periferia, por mulheres, por negros, por homossexuais, e irritava bastante os adversários políticos, mas é quase uma unanimidade dizer que ela, na prática, não tinha força suficiente para prejudicar, muito menos inviabilizar, os interesses das poderosas milícias que controlam vastas áreas do Rio de Janeiro, acusadas inicialmente pela morte. Há dias, a justiça do Rio determinou que Lessa e Hélcio vão a júri popular, mas a família de Marielle Franco teme que a provável condenação deles seja usada como uma espécie de resposta ao clamor popular por justiça, mantendo impune quem ordenou os assassínios.
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