Ministério Público russo pede 18 anos de prisão para jornalista norte-americano acusado de espionagem

Autoridades alegaram, sem apresentar quaisquer provas, que Gershkovich estava a "recolher informações secretas" para a agência de espionagem norte-americana CIA.

19 de julho de 2024 às 10:52
Evan Gershkovich Foto: Evgenia Novozhenina/Reuters
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O Ministério Público russo pediu esta sexta-feira uma pena de 18 anos de prisão para o jornalista norte-americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal (WSJ), acusado de espionagem, anunciaram as autoridades judiciais russas.

"Durante o debate, o Ministério Público pediu uma pena de 18 anos de prisão numa colónia penal de segurança máxima", disse o serviço de imprensa do tribunal que está a julgar Gershkovich, citado pela agência russa TASS.

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Segundo a porta-voz do tribunal, citada pela agência France-Presse, o veredicto deverá ser anunciado às 12:00 de Lisboa.

O arguido "não admitiu a culpa" e exerceu o direito a uma "última oportunidade de falar" antes do veredicto, disse a porta-voz.

O julgamento está a decorrer à porta fechada em Ecaterimburgo, uma cidade nos Montes Urais onde o jornalista de 32 anos foi detido durante uma viagem de reportagem em março de 2023.

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As autoridades alegaram, sem apresentar quaisquer provas, que Gershkovich estava a "recolher informações secretas" para a agência de espionagem norte-americana CIA.

Em concreto, foi acusado de obter informações sobre a Uralvagonzavod, uma fábrica situada 150 quilómetros a norte de Ecaterimburgo que produz e repara tanques e outro equipamento militar.

Gershkovich, antigo jornalista da agência da AFP em Moscovo, sempre disse ser inocente.

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Nascido nos Estados Unidos e filho de imigrantes da antiga União Soviética, Gershkovich é o primeiro jornalista ocidental detido sob a acusação de espionagem na Rússia pós-soviética.

Os tribunais russos condenam mais de 99% dos arguidos e os procuradores podem recorrer de sentenças que considerem demasiado brandas, bem como de absolvições, segundo a agência norte-americana AP.

O julgamento de Gershkovich começou em 26 de junho em Ecaterimburgo, depois de ter passado cerca de 15 meses na famosa prisão de Lefortovo, em Moscovo.

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Gershkovich compareceu hoje em tribunal pelo segundo dia consecutivo.

Ao contrário das sessões anteriores, em que os jornalistas foram autorizados a ver Gershkovich por breves instantes antes do início dos procedimentos, esta semana não houve acesso da imprensa à sala de audiências.

As autoridades russas não deram qualquer explicação para a decisão, mas os processos de espionagem e traição são normalmente envoltos em secretismo.

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"Mesmo enquanto a Rússia orquestra o seu vergonhoso julgamento fictício, continuamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para exigir a libertação imediata de Evan", disse o WSJ num comunicado recente.

"Evan estava a fazer o seu trabalho como jornalista, e o jornalismo não é um crime. Tragam-no já para casa", exigiu o jornal.

O Departamento de Estado norte-americano declarou que Gershkovich foi "detido injustamente", comprometendo-se a procurar a sua libertação de forma assertiva.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, reafirmou na quarta-feira nas Nações Unidas que há "provas irrefutáveis" contra Gershkovich, embora sem as revelar.

Lavrov disse também que Moscovo e os "serviços especiais" de Washington estavam a discutir uma troca de presos envolvendo Gershkovich.

A Rússia já havia sinalizado anteriormente a possibilidade de uma troca, mas só depois do veredicto sobre Gershkovich.

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O porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel, recusou-se na quinta-feira a discutir as negociações sobre uma possível troca, mas reafirmou que o jornalista está inocente.

"Até à data, a Rússia não apresentou qualquer prova de crime e não conseguiu justificar a continuação da detenção de Evan", acrescentou, citado pela AP.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, acusou Moscovo de tratar "seres humanos como moeda de troca".

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Referiu-se a Gershkovich e ao ex-fuzileiro Paul Whelan, 53 anos, diretor de segurança de uma empresa do Michigan, que está a cumprir uma pena de 16 anos depois de ter sido condenado por espionagem.

Whelan e os Estados Unidos negaram sempre as acusações.

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