Morte lenta e sofrida para criminoso redimido
Morreu após vários minutos de agonia. Stanley ‘Tookie’ Williams, o criminoso que se redimiu e mobilizou famosos contra a sua execução, teve uma morte lenta e sofrida. Apesar do arrependimento que manifestou ao longo de mais de duas décadas, com campanhas contra a violência, o governador da Califórnia, ‘não encontrou qualquer justificação para lhe conceder clemência’. Para o reverendo Jesse Jackson, activista dos Direitos Humanos, Arnold Schwarzenegger preferiu a vingança ao perdão.
A administração da injecção letal iniciou-se às 12H01, hora local, na câmara de execução de San Quentín, na Califórnia. Foi um processo penoso porque o funcionário não conseguia encontrar uma veia. A ansiedade que essa demora causava em ‘Tookie’ era evidente. Estava impaciente. Várias vezes levantou a cabeça para olhar em direcção aos seus apoiantes e a galeria reservada aos órgãos da Comunicação Social. Foi declarado morto decorridos 34 minutos.
As últimas horas passou-as a receber amigos e a ler cartas de apoiantes. Recusou a última refeição a que tinha direito bem como a presença de um conselheiro espiritual. Embora inicialmente tivesse dito que não queria que ninguém afecto a si estivesse presente durante a execução, acabou por aceitar cinco testemunhas: Barbara Becnel, a editora dos seus livros e sua fervorosa apoiante, e quatro membros da sua equipa legal.
À porta do estabelecimento prisional estavam centenas de apoiantes. Pela campanha para a comutação da pena mobilizaram-se nomes sonantes como o actor Jamie Foxx (que interpretou o papel de ‘Tookie’ no filme ‘Redenção’), a cantora Joan Baez, o ‘rapper’ Snoop Dogg (ele próprio um ex-membro dos ‘Crips’), o bispo Desmond Tutu, o reverendo Jesse Jackson. O Vaticano juntou-se ao coro de críticas, provenientes sobretudo da Europa.
‘Tookie’ foi condenado à morte em 1981 pelo assassínio de Albert Owens durante um assalto a uma loja de conveniência e ainda pelos homicídios de um casal e da sua filha num motel. Assumiu a culpa pelo seu passado violento, mas negou os assassínios. Os advogados tentaram todos os recursos, o último dos quais rejeitado pelo SupremoTribunal. Schwarzenegger negou-lhe clemência. Lora Owens, madrasta de uma das vítimas, assistiu à execução. “Teve a punição justa”, concluiu.
Nascido há 51 anos em Nova Orleães, ‘Tookie’ Williams cresceu num bairro pobre de Los Angeles, onde se dizia que era um líder nato. Explorou esta sua característica para espalhar o terror. Aos 17 anos fundou, com o seu amigo Raymond Washington, o gang Crips, que em pouco tempo ganhou tentáculos em todo o país e ficou conhecido pela violência com que actuava. A imagem de marca do gang era um lenço azul. A Justiça acabou por apanhá-lo e condená-lo.
Na prisão, manteve uma conduta violenta, o que o obrigaria a ficar numa solitária. Segundo ele, foi durante este isolamento que se deu conta dos erros que cometera. A partir de então, dedicou os seus dias a fazer campanha contra a violência. Escreveu nove livros para crianças, nos quais fala dos perigos da vida marginal. As receitas foram para organizações sem fins lucrativos. Pelos livros foi proposto para Nobel da Literatura. Pela campanha, foi proposto na semana passada, pela sexta vez consecutiva, para Prémio Nobel da Paz.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt