Orangotangos têm 'enciclopédia' para saber como se alimentar após emancipação

Estudo revela que os primatas trazem consigo um 'catálogo mental' de quase 250 plantas e animais comestíveis após separação das mães.

25 de novembro de 2025 às 07:15
Orangotangos passam os primeiros 15 anos de vida com as mães Foto: Getty Images
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Quando um orangotango se separa da mãe, depois de passarem os primeiros quinze anos de vida juntos, já transporta consigo uma espécie de catálogo mental de quase 250 plantas e animais comestíveis, além do conhecimento de como obtê-los.

Um estudo publicado na segunda-feira na revista Nature Human Behaviour revela que nenhum orangotango consegue adquirir este tipo de conhecimento 'enciclopédico' para se alimentar quando se torna independente, através do típico processo de tentativa e erro.

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São os anos de observação e exploração ao lado de outros membros da sua espécie que lhe permitem adquirir esse conhecimento.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, utilizaram uma extensa base de dados compilada sobre orangotangos selvagens em Sumatra, na Indonésia.

Os dados incluíram 12 anos de observações diárias, nas quais os comportamentos dos orangotangos foram registados a cada poucos minutos.

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Para complementar estes dados, os cientistas recriaram cenários em que os orangotangos jovens eram privados de diferentes tipos de interações sociais durante o seu crescimento.

Construíram um modelo de simulação que recriava a vida dos orangotangos desde o nascimento até à maturidade, aos 15 anos.

O modelo incorporou três comportamentos sociais essenciais que, segundo as previsões, influenciam o desenvolvimento da dieta dos orangotangos: observação de perto de outros indivíduos a alimentar-se na floresta, proximidade com outros orangotangos a alimentar-se ou simplesmente serem guiados para locais adequados para se alimentarem.

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"Isto permitiu-nos determinar que tipos de interações sociais ajudam os orangotangos jovens a aprender o que comer e até a classificar a sua importância", realçou uma das autoras, Caroline Schuppli, do Instituto Max Planck.

O resultado foi que, quando os três tipos de aprendizagem social estavam disponíveis (a condição mais semelhante à dos indivíduos selvagens), os orangotangos simulados mantiveram dietas semelhantes às dos adultos (cerca de 224 tipos de alimentos), aproximadamente na mesma idade que os orangotangos selvagens.

Mas o simples isolamento da observação direta (o olhar fixo) teve um efeito: os orangotangos simulados apresentaram um desenvolvimento alimentar mais lento e atingiram apenas 85% do repertório alimentar completo dos espécimes selvagens na idade adulta.

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Ao eliminar tanto o olhar fixo como a associação com a proximidade, os macacos simulados ficaram com dietas drasticamente mais limitadas. Estas dietas nunca se aproximaram da variedade possuída pelos adultos selvagens.

"Temos provas convincentes de que a cultura é o que permite aos orangotangos selvagens construir repertórios de conhecimento muito mais vastos do que poderiam aprender sozinhos", frisou outro dos autores, Elliot Howard-Spink, atualmente investigador na Universidade de Zurique.

O próximo passo, segundo os investigadores, será perceber como é que este conhecimento culturalmente acumulado influencia a ingestão energética, a sobrevivência e o sucesso dos orangotangos.

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