"Estava toda a gente em pânico": Portugueses retidos em hotel descrevem escalada de violência no Nepal
Até ao momento, autoridades registaram pelo menos 19 mortos e centenas de feridos.
Pelo menos dois portugueses estão retidos no Nepal depois de o hotel onde se encontravam hospedados, em Katmandu, ter sido vandalizado e incendiado durante violentas manifestações contra o governo. O hotel Hilton acabou consumido pelas chamas, obrigando os hóspedes a fugir apenas com o telemóvel e com o passaporte.
Paulo Machado e Luís Fernandes, que estavam num hotel próximo, descrevem momentos de pânico. “Na manhã seguinte, quando íamos fazer o check-out, o gerente bateu à porta e disse-nos que não sairíamos do hotel”, contou Paulo Machado.
Segundo os portugueses, o dono do hotel chegou a considerar a hipótese de recorrer a uma ambulância para levá-los até ao aeroporto, mas desistiu rapidamente. “Disse que as estradas estavam barricadas e incendiadas. Pediu-nos que ficássemos tranquilos e repetia: ‘Eu não sou o alvo, não sou o alvo’”, recorda Luís Fernandes, sublinhando as ligações políticas do proprietário.
Do terraço, viram helicópteros a levantar voo e o Parlamento cercado por protestos. Pouco depois, refugiados num quarto com um piloto e uma médica nepaleses, viveram momentos de terror. “Desligámos as luzes, fechámos as persianas, mas ouvíamos vidros a rebentar e barulhos cada vez mais próximos. Estava toda a gente em pânico, a médica rezava”, descreve Paulo Machado.
A situação tornou-se insustentável quando começaram a bater à porta. “O piloto disse: ‘Levem o que tiverem!’. Só trouxe o passaporte. Tivemos de abandonar o hotel com o fogo a espalhar-se”, acrescenta.
Os dois portugueses acabaram por se refugiar em casa de um funcionário. A embaixada portuguesa foi contactada, mas, segundo os relatos, limitou-se a recomendar “paciência e aguardar”.
Com o aeroporto encerrado, estradas bloqueadas e bancos fechados, Paulo e Luís encontram-se agora noutro hotel que apenas aceita dinheiro vivo. “Ontem nem conseguimos jantar. Viemos da Indonésia e deparámo-nos com este cenário”, lamenta Paulo.
Recorde-se que a polícia nepalesa reprimiu brutalmente na passada segunda-feira manifestações que denunciavam a decisão do governo de bloquear as redes sociais e a corrupção das elites, causando, pelo menos, 19 mortos e centenas de feridos.
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