Rebeldes voltam a atacar Mocímboa da Praia

Cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito que começou há seis anos.

04 de janeiro de 2024 às 16:08
Ataques armados em Cabo Delgado. Moçambique Foto: DR
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Grupos armados que têm aterrorizado a província de Cabo Delgado voltaram, na quarta-feira, a atacar o distrito de Mocímboa da Praia, disseram à Lusa fontes da comunidade.

O ataque ocorreu por volta das 15:00 (13:00 em Lisboa) na comunidade de Ntótwé, a escassos quilómetros de Awasse, onde está montada uma das posições das forças ruandesas que apoiam Moçambique no combate aos grupos rebeldes em Cabo Delgado.

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"Invadiram lojas, levaram produtos e outros bens da população e puseram-se em fuga. Até então não tenho informações de mortes", disse à Lusa um residente local que se refugiou no posto administrativo de Awasse.

A nova incursão rebelde em Mocímboa da Praia provocou a fuga de populares de Ntótwé para o posto administrativo de Awasse, embora tenha merecido uma resposta imediata das forças moçambicanas e ruandesas que estão na região.

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"Vimos militares ruandeses e moçambicanos por lá", disse à Lusa outra fonte, acrescentando que os rebeldes invadiram o local e saquearam lojas, mas depois fugiram, estando alguns populares a regressar gradualmente à localidade.

"Da minha casa, pelo menos três pessoas fugiram devido ao ataque, mas já estão a retornar a  Ntótwé ", disse à Lusa outro residente.

A localidade de Ntótwé, a pouco mais de 100 quilómetros da sede de Mocímboa da Praia, está localizada ao longo da estrada nacional número 380, uma das poucas asfaltadas da região e que que liga aos distritos mais ao norte de Cabo Delgado, onde estão ancorados os projetos do gás do Rovuma.

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O distrito de Mocímboa da Praia, no norte de Cabo Delgado, foi o primeiro alvo dos terroristas, em 05 de outubro de 2017, tendo os insurgentes atacado, depois, outros pontos da província.

No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito que começou há seis anos, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações insurgentes em junho de 2020.

Após meses nas "mãos" de rebeldes, Mocímboa da Praia foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.

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A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu em 22 de novembro "decisões" sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas.

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A cimeira da SADC aprovou em agosto passado a prorrogação da missão em Cabo Delgado (SAMIM, na sigla em inglês), por 12 meses, até julho deste ano.

Uma missão de avaliação propôs em julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província "está agora calma", apesar de os riscos prevalecerem.

Nas recomendações, a missão de avaliação aconselhava o início gradual da saída da SAMIM a partir de 15 de dezembro de 2023 e a conclusão da retirada em 15 de julho de 2024, isto é, um dia antes do fim do prazo da prorrogação decidida pela troika da SADC.

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Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.

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