Senadores republicanos consideram Trump um perigo para a democracia
"Ele (Trump) não é normal", disse Jeff Flake.
Dois senadores republicanos criticaram esta terça-feira, de forma espetacular, Donald Trump, descrevendo-o, num turbilhão de críticas, como um Presidente "perigoso para a democracia" e adepto das "contra verdades".
O dia deveria decorrer sob o sinal da unidade do partido maioritário no congresso, o republicano, com uma rara deslocação de Trump ao Capitólio para promover um projeto de grande baixa de impostos.
Mas Donald Trump começou por trocar -- mais uma vez -- 'galhardetes', através da rede social Twitter, com o presidente da comissão dos Negócios Estrangeiros, Bob Corker, que se tornou nas últimas semanas um dos congressistas republicanos mais críticos do ocupante da Casa Branca.
Depois, como se a maioria não estivesse abalada o suficiente, o senador Jeff Flake, eleito pelo Estado do Arizona, anunciou, para surpresa geral, que renunciava a disputar um novo mandato, por ocasião das eleições de novembro de 2018, atribuindo a sua saída à política nefasta de Trump.
Recusando ser "cúmplice", Jeff Flake justificou, com um nó na garganta, porque é que o Presidente é "perigoso para a democracia".
"Indecência, desprezo pela verdade, provocações mesquinhas e por razões puramente pessoais: Temos de deixar de considerar normais os comportamentos de alguns no poder executivo", disse, vincando. "Ele (Trump) não é normal".
"Eu não serei cúmplice, nem silencioso", acrescentou.
Este eleito pelo Arizona estendeu as críticas ao próprio partido, devorado por uma vaga de "cólera e ressentimento", onde considera já não ter lugar, enquanto republicano pró-imigração e ligado ao liberalismo económico.
Também Bob Corker, senador pelo Tennessee, decidiu não disputar um novo mandato, o que provocou que se tivesse libertado nas críticas a Trump. Ao contrário de Flake, ele tinha apoiado Trump nas primárias.
"Peso pluma" e "incompetente" foram os insultos que Trump lhe dirigiu hoje, via Twitter.
Corker retorquiu, na mesma rede social, que "as mesmas contra verdades de um Presidente que não é digno de confiança".
"O presidente tem grandes dificuldades com a verdade, sobre vários assuntos", acrescentou o senador pelo Tennessee, agora na televisão CNN.
Estes senadores constituem, com John McCain, senador republicano também eleito pelo Estado do Arizona, uma espécie de trio que contesta o sucessor de Barack Obama.
Ao romperem com Trump em nome de princípios, os três pressionam os seus correligionários, que têm preferido ignorar os problemas presidenciais.
Até o antigo Presidente republicano George W. Bush, em termos velados, exprimiu, na semana passada, a sua inquietação, com a "crueldade" e "intolerância" do ambiente político.
À esquerda, os colegas democratas de Flake prestaram-lhe homenagem.
"É trágico que a política republicana se tenha tornado tão tóxica e insensata que Jeff Flake não possa 'em consciência' apresentar-se a eleições", disse o senador Tim Kaine, ex-candidato à vice-presidência com Hillary Clinton.
Na Casa Branca, a porta-voz Sarah Sanders justificou a persistência de Trump em responder a cada crítica da seguinte forma: "Os habitantes deste país não elegeram nenhum fraco. Eles querem alguém que seja forte e que, quanto é atacado, responde".
O chefe dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, por seu turno, afirmou, de forma seca: "Não sei quantas vezes tenho de o repetir. Há muito ruído de fundo (...). Neste país, todos têm direito a falar".
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