Socióloga de 21 anos tornou-se profissional do sexo para analisar "o papel das mulheres e dos homens"

Jovem francesa é acompanhante, atriz porno e dominatrix. Já atendeu cerca de 500 clientes.

26 de setembro de 2025 às 12:50
Charly Corbie Foto: Charly Corbie/Facebook
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Charly Corbie tornou-se Emma aos 21 anos. A jovem francesa começou por estudar sociologia, mas a vontade de se especializar em Estudos de Género levou-a a um mundo que para si ainda era desconhecido. Para conseguir entender como o patriarcado influencia os homens e como as masculinidades tóxicas podem ou não influenciar o futuro do feminismo, Emma começou a trabalhar a tempo inteiro como profissional do sexo. Cinco anos depois e com 26 anos, Emma continua a ser acompanhante, performer sexual, atriz porno e dominatrix - mulher que num relacionamento sexual, dominação ou sadomasoquismo exerce controlo psicológico e físico sobre um parceiro submisso.

A jovem, citada pelo El Mundo, sempre achou que era no estudo teórico da sociologia que "encontraria o conteúdo mais feminista", mas enganou-se. "Nem os professores nem os alunos pareciam ter muito interesse em analisar o papel das mulheres e dos homens no mundo”, explicou Charly. Para este estudo sociólogo que tanto ansiava, Emma teve de 'entrar em campo'. Ainda antes de adotar a identidade de Emma, Charly sempre assistiu a pornografia, mas nada a excitava, nem os filmes de Erika Lust - sueca, radicada em Barcelona, que fez da pornografia ética o seu projeto de vida como ativista.

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A mesma fonte avança que Erika Lust estudou Ciência Política e que a mulher foi movida por uma consciência feminista precoce.

Charly Corbie admirava as mulheres que via nos filmes de Erika. Além de sexo e pornografia, considerava que naqueles filmes existia uma mensagem feminista e, essencialmente, política. Para Charly estas mulheres eram "empoderadas" e desejava ser como elas, algo que veio mesmo a acontecer. Charly, ou melhor Emma, interpretou uma das seis protagonistas de uma orgia lésbica. A atriz adiantou ao El Mundo que evita cenas com homens e que trabalha apenas em filmes que sejam dirigidos por mulheres "por princípio e segurança".

"Erika faz política através dos filmes, com uma abordagem coordenada à privacidade, contratos com remuneração justa para todos os trabalhadores, uma ampla diversidade de corpos, raças e sexualidades na tela e elencos predominantemente femininos, à frente e atrás das câmaras que colocam o prazer feminino em primeiro plano. Mas também é político mostrar a beleza em todas as suas facetas, porque os seus filmes são sempre tremendamente belos", justifica a francesa.

A mesma fonte indica que no primeiro dia em que Charly se estreou como prostituta, a jovem fugiu do hotel assim que viu o cliente. Foi então que decidiu ser dominatrix, tendo o seu primeiro cliente pedido à jovem para lhe dar um pontapé nos testículos.

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De acordo com o El Mundo, Charly tem quatro irmãos e a sua família é muito católica e conservadora. A jovem fez parte do coro, fez a primeira comunhão e ia todos os domingos à missa. Sabe tocar três instrumentos musicais e foi voluntária num centro para pessoas com deficiência.

"Sempre fui a menina boa, alegre e radiante, que fazia sempre o que se esperava dela, e queria saber se seria capaz de ser exatamente o oposto: fria, severa, autoritária, dominante", conta a jovem que considera que a sua verdadeira identidade só foi construída a partir do momento em que se tornou uma dominatrix. Para Emma, ser dominatrix não é um papel ou uma máscara. É aí que se "sente mais segura na rua e menos raiva contra os homens".

Emma explica que para os "novatos" uma sessão de BDSM - Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo - começa com uma negociação. Ambas as partes - dominador e submisso - conversam sobre as práticas a realizar durante a atividade sexual, os limites que não devem ser ultrapassados e de que forma o encontro sexual pode ser interrompido sempre que o decidirem fazer.

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Só com a prática é que Emma conseguiu entender e especializar-se em masculinidade. "Ainda temos a ideia errada de que o feminismo deve centrar-se nas mulheres, e acho que é muito importante não ignorar o papel que os homens desempenham no patriarcado, como opressores, mas também como oprimidos". Numa sessão de BDSM, os homens tendem a falar depois da prática do sexo, explica a jovem. Emma já teve cerca de 500 clientes, muitos vítimas de agressões sexuais, incesto e até homens, já pais, que são homossexuais, mas nunca o admitiram. O cliente típico de Emma é um homem branco com idade compreendida entre os 30 e 40 anos, de classe abastada e com família construída.

Emma refere que também os homens "são vítimas do patriarcado".

Para a jovem, a sua profissão é arte. Além deste pilar, a sua carreira profissional transmite esperança num contexto político em que as suas colegas são ameaçadas tanto pela extrema-direita quer pela esquerda. Para Emma, o que faz é uma forma de cuidado.

"Não é tão diferente do que fazia nos meus voluntariados ou na igreja. Entre as trabalhadoras sexuais, chamamo-nos frequentemente de terapeutas e acho que essa palavra contém a chave de tudo", diz, citada pelo El Mundo.

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Durante as suas sessões, Emma é quem domina a cem por cento. Por parte dos clientes - os submissos - não existe qualquer toque, limitam-se a obedecer-lhe O único ato sexual que efetivamente pode acontecer é a masturbação, de Emma ao cliente. Qualquer passo em falso pressupõe um castigo. É neste momento que entra um castigo, a maior parte das vezes físico.

Atualmente, Emma trabalha maioritariamente como acompanhante, mas faz também performances eróticas em público recorrendo ao chicote, filmes e vídeos curtos divulgados na internet. 

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