Três crianças e um bebé sobrevivem 40 dias na floresta na Colômbia
Documentário da National Geographic conta a história incrível dos irmãos Mucutuy, que sobreviveram à queda de um avião.
Se há milagres, a história dos irmãos Mucutuy está no topo da lista. Lesly (13 anos), Soleiny (9 anos), Tien (5 anos) e Cristin (11 meses) viveram 40 dias na selva amazónica colombiana, até serem resgatados. Viajavam na companhia da mãe, ao encontro do pai, um líder indígena, quando a aeronave em que seguiam se despenhou, a 1 de maio de 2023.
O piloto e o copiloto terão tido morte imediata. Magdalena, a mãe, resistiu quatro dias. Antes de morrer, pediu-lhes para lutarem pela vida. Ao milagre de terem sobrevivido à queda do aparelho seguiu-se outro, o da luta pela sobrevivência, num ambiente severo e hostil. “Puxei a minha irmã que estava debaixo da minha mãe… Não podíamos ficar e tivemos de abandonar o avião para encontrar mais comida e algo para beber”, conta Lesly, que pegou em Cristin e pôs-se a caminho, seguida por Soleiny e Tien. “A minha perna doía muito, mal conseguia ficar em pé e andar. Fui recuperando a força, sabia que precisava de continuar”, diz Lesly. “A minha maior preocupação era manter a bebé viva. Tinha de cuidar dela”, acrescentou.
O Governo colombiano destacou dezenas de militares para o local, ajudados por cães e indígenas da comunidade a que pertenciam os irmãos, mas depararam-se logo com um problema sério: encontrar o avião. Só ao cabo de duas semanas descobriram os destroços da aeronave e os corpos dos três adultos. A ausência Lesly, Soleiny, Tien e Cristin deu alento à equipa de buscas, com a certeza de que tinham sobrevivido ao desastre, mas a esperança de encontrá-los com vida era quase nula. Se um adulto já teria dificuldades em enfrentar aquele cenário durante 24 horas, quanto mais quatro crianças tantos dias. Mas não desistiram. Alargaram o perímetro de buscas e, para surpresa de todos, começaram a encontrar vestígios da presença dos menores: objetos que retiraram do avião, uma espécie de abrigo, mas, sobretudo, fruta parcialmente comida. “A minha mãe ensinou-me quais as frutas que podíamos comer na selva”, explica Lesly.
Soube-se, mais tarde, que foi a base a alimentação, a par de farinha de mandioca e sementes. Quarenta dias depois, o tempo que Moisés esteve, sem comer nem beber, no Monte Sinai, onde recebeu de Deus as tábuas de pedra com os 10 Mandamentos, o milagre aconteceu, a 9 de junho. Os irmãos foram encontrados vivos, a cinco quilómetros do local do acidente. Com feridas, nódoas negras, picadas, arranhões, traumatizados, subnutridos, mas vivos. “Estou com fome” e “a minha mãe morreu” foram as primeiras palavras que se lhes ouviram. A história correu o Mundo e volta agora a ser falada a propósito do documentário ‘Perdidos na Selva’, da National Geographic, com imagens e testemunhos. Mas sem a presença das crianças. Apenas a voz de Lesly. Vivem resguardadas, no anonimato, aos cuidados do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar.
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