Tensão entre Estados Unidos e Irão acentua-se após decisão norte-americana de se retirar do acordo nuclear de 2015 e aplicar sanções ao Irão.
É "muito difícil" saber quem lançou o ataque a dois petroleiros no Golfo de Omã, mas o incidente traduz-se numa escalada que "serve sobretudo" os neoconservadores norte-americanos que defendem um conflito armado com o Irão, defendeu Álvaro Vasconcelos.
"Se fizermos uma análise baseada não em conhecimentos exatos, que não temos, só os serviços de informações saberão quem fez este ataque, podemos dizer que ele serve sobretudo os 'falcões', os setores mais duros da administração norte-americana que querem convencer Donald Trump da vantagem de um conflito armado com o Irão", disse esta sexta-feira à Lusa o especialista em segurança e estratégia.
Na quinta-feira, dois petroleiros, um norueguês outro japonês, foram atacados quando navegavam no Golfo de Omã, junto ao Estreito de Ormuz, ao largo do Irão.
Os Estados Unidos acusam o Irão do ataque e Teerão nega qualquer responsabilidade no incidente, que acentua a tensão entre os dois países criada pela decisão norte-americana de se retirar do acordo nuclear de 2015 e aplicar sanções ao Irão.
"Por um lado, é verdade que o Irão tem mostrado vontade de criar dificuldades aos americanos e aos seus aliados para mostrar o preço que há a pagar pela politica de sanções", disse Álvaro Vasconcelos.
Mas, "parece muito estranho, praticamente impensável", que o Irão tenha querido sabotar um petroleiro japonês no preciso dia em que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, estava de visita ao país, numa tentativa de mediar negociações entre o Irão e os Estados Unidos, apontou.
"Por outro lado, na administração Trump, há indivíduos, como [o conselheiro de segurança nacional] John Bolton e outros, que estão na linha dos neoconservadores americanos que fizeram a Guerra do Golfo de 2003 e que gostariam de fazer uma guerra contra o Irão", explicou, frisando que esse setor "tem todo o interesse numa escalada para levar à justificação de um conflito militar".
"Uma das consequências desta sabotagem, poderia ser, se a tese de Bolton triunfar, um ataque aéreo americano contra alvos no Irão", admitiu o analista.
Do lado iraniano, assegurou, "não há vontade de uma politica de confronto com os Estados Unidos", mas há essa disposição para mostrar aos inimigos "o preço a pagar" e pode ter sido aliás isso que ocorreu no ataque, há um mês, a outros quatro petroleiros, aos largo dos Emirados Árabes Unidos.
"Os iranianos querem que o acordo que assinaram com as potências seja cumprido por todos, incluindo pelos Estados Unidos", explicou, sublinhando que o país está confrontado com "problemas gravíssimos" devido às "sanções duríssimas" impostas pelos Estados Unidos.
Mas "os que estão no poder no Irão têm de demonstrar que não cedem às pressões americanas e por isso não me custa nada acreditar que as sabotagens de há um mês tenham tido mão iraniana. Talvez não do poder reformista iraniano, talvez dos guardas revolucionários, que têm uma enorme autonomia".
A situação "é muito complexa", frisou várias vezes, e envolve uma série de aspetos, entre os quais o que pretende Donald Trump, nomeadamente com eleições presidenciais em 2020.
"Quer aumentar a tensão com o Irão para negociar numa posição de força ou quer um confronto militar para ter 'a sua' Guerra do Golfo e isso facilitar ou não a sua eleição?", questionou.
"Será que um confronto armado com o Irão facilita a unidade americana à volta do seu presidente [...] Ou será que é o contrário do que querem os eleitores de Trump que o elegeram com ele a dizer que queria acabar com as guerras e retirar as tropas do Médio Oriente, do Afeganistão...?".
Outro elemento importante em toda a situação é o papel da União Europeia (UE), de que fazem parte três dos países signatários do acordo nuclear (Alemanha, França e reino Unido) e a quem o Irão pediu que encontre forma, até 7 de julho, de o compensar dos efeitos das sanções para se manter no acordo.
"É difícil para a UE demonstrar isso, mas é fundamental, seria uma forma de afirmação da Europa como uma potência autónoma, capaz de contribuir para diminuir as tensões no Médio Oriente", frisou.
"Este aumento das tensões põe também uma pressão enorme na Europa, porque se a 7 de julho não for capaz de demonstrar isso, vamos ter o Irão a retomar o seu programa nuclear".
No acordo nuclear, assinado em 2015 entre o Irão e o 5+1, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, Teerão comprometeu-se a aceitar limitações e maior vigilância do seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções.
Com a retirada dos EUA do acordo em 2018, esta contrapartida económica deixa de estar presente, até porque Washington sanciona as empresas, nomeadamente europeias, que negoceiem com o Irão, pelo que o Irão deixa de ter razões para limitar o programa.
"E nós percebemos porquê. A lógica do programa nuclear iraniano não me parece que seja que o Irão queira usar as suas armas nucleares para atacar alguém. Não, o Irão quer ter a arma nuclear como dissuasiva de um ataque americano", considerou, evocando os ataques e invasões norte-americanos ao Iraque, na fronteira ocidental do Irão, e ao Afeganistão, na fronteira oriental.
"É uma situação muito complexa. E nesta situação complexa, a politica de Trump é deitar fogo no fogo, é extremamente desestabilizadora da região", assegurou.
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