"Queremos comparar o que aconteceu na Guiné-Bissau, com o que aconteceu no Alentejo", afirma investigador da Universidade de Lisboa.
Um grupo de investigadores está a estudar em Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, as mudanças ambientais e sociais provocadas pela colonização e pela escravatura desde o século XVI até aos dias de hoje.
"Estamos a trabalhar num projeto que se chama Ecologias da Liberdade e que se dedica a investigar as materialidades da escravidão do período colonial e depois desde a escravidão até ao período atual, passando por tudo o que foi o trabalho forçado, o colonialismo, a emancipação e tudo mais", afirmou à Lusa o arqueólogo e professor da Durham University Rui Coelho, que lidera o projeto.
Segundo o também investigador da Universidade de Lisboa, o projeto não termina em Cacheu e terá um "segundo foco sobre o Alentejo".
"Nós queremos comparar o que aconteceu aqui na Guiné-Bissau, em Cacheu, com o que aconteceu no Alentejo durante o mesmo período", disse.
A Alentejo, explicou o professor, é uma região "ligada à escravização de pessoas que eram trazidas desta e de outras regiões para trabalhar nos campos e nos arrozais e o arroz e sua produção é uma das ideias que temos para trabalhar aqui, tanto em Cacheu como no Alentejo".
"O rio Cacheu e o vale do Sado tiveram produções de arroz muito importantes que alguns investigadores julgam que podem estar associadas a uma introdução de arroz africano que foi domesticado aqui nesta região, independentemente da domesticação do arroz na Ásia", afirmou.
Durante cerca de um mês, o grupo de investigadores trabalhou em Cacheu, principalmente junto ao Memorial da Escravatura, naquela cidade guineense, onde realizou uma série de escavações.
Questionado sobre o tipo de trabalho feito no local, Rui Coelho explicou que primeiro foi feito um trabalho de geoarqueologia nas margens do rio Cacheu, de onde foram tiradas colunas de sedimento.
O sedimento será analisado em laboratórios para retirar dados ambientais que "podem explicar mudanças climáticas no rio, os comportamentos das pessoas, hábitos agrícolas e que de forma essas mudanças estão associadas aos grandes processos históricos, nomeadamente a chegada dos europeus e o início da colonização e a generalização da escravatura", disse.
Após aquele trabalho, a equipa iniciou as escavações no Memorial da Escravatura, com o parceiro local que é a Ação para o Desenvolvimento, que está instalado naquilo que foi a Casa Gouveia no período colonial tardio e que, segundo o investigador, era um "grande empório comercial" e um "instrumento de colonização, dominação das populações da Guiné-Bissau".
"Era uma casa comercial, como uma arquitetura semelhante à do século XIX, e entenderam ser um bom local para escavar para entender quais as transformações sociais e urbanas em Cacheu desde o início do período colonial, no final do século XVI", disse.
Rui Coelho afirmou que o que foi encontrado nas escavações foi "muito bom", porque mostrou resultados que deram para entender as origens da casa e as origens de Cacheu.
"Ao lado da casa fizemos uma outra sondagem onde encontramos três momentos muito interessantes que representam a história económica mais recente da Guiné-Bissau", disse, explicando que foram encontrados vestígios de anil associado à tinturaria de tecidos, de produção de borracha natural e de óleo de palma.
"Estamos a falar de três tipos de produção, de três épocas diferentes, mas que representam essa exploração económica e social dos agentes coloniais do povo do que é hoje a Guiné-Bissau. O anil, a borracha natural e o óleo de palma", afirmou.
O projeto Ecologias da Liberdade é financiado por várias instituições, nomeadamente a National Geographic Society, Rust Family Foundation, a Fundação para a Ciência e Tecnologia, através do centro de arqueologia da Universidade de Lisboa.
O projeto é também apoiado pela Durham University e pela organização não-governamental guineense Ação para o Desenvolvimento, instituição promotora do Memorial da Escravatura, que foi feito no âmbito de uma parceria com o centro de arqueologia e centro de história da Universidade de Lisboa.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.