Correio da Manhã – O que o leva a candidatar-se à presidência de Angola?
Carlos Gouveia – A minha candidatura é uma espécie de remédio para curar os grandes males que estão a destruir o sistema político, económico e social do meu país.
– A corrupção é um desses males?
– É dilacerante. É preciso combater a corrupção que se institucionalizou em Angola. Há governantes que detêm grandes poderes, somas exorbitantes no país e no estrangeiro. A corrupção não só constitui uma ameaça política e militar, mas também económica e humanitária. Há muitas fraudes. Há governantes corruptos que têm mais dinheiro que alguns bancos. Mas também há generais das Forças Armadas, oficiais da polícia e deputados do MPLA (Movimento para a Libertação de Angola) que não sabem provar os bens que têm. É preciso confiscar os bens públicos usurpados por estes corruptos durante a guerra. José Eduardo dos Santos privatizou o Estado e a economia do país. O MPLA detém o monopólio financeiro da Nação.
– Que consequências tudo isto poderá ter?
– Graves. Há militares no activo sem salários e é preciso ter em atenção que os antigos combatentes e veteranos de guerra podem revoltar-se e regressar à guerra porque eles estão numa situação de extrema pobreza, enquanto há generais com milhares de dólares. A grande arma contra o MPLA é a força do povo que está cansado de José Eduardo dos Santos. O povo está cansado do sofrimento.
– Ficou surpreendido com as declarações de Bob Geldof?
– O que Geldof disse não é mentira. Mentira são os editoriais do ‘Jornal de Angola’ que, como todos sabemos, é controlado pelo MPLA e governo. As opiniões dos partidos da oposição não passam na rádio nacional, na televisão e no ‘Jornal de Angola’. O MPLA e o governo dizem na imprensa deles tudo aquilo que entendem.
PERFIL
Carlos Alberto Contreiras Gouveia nasceu no município do Sambizanga, em Luanda, a 14 de Março de 1966. Casado e pai de seis filhos, licenciou-se em Ciências Políticas e Económicas pela Faculdade de Boston (EUA). Esteve exilado na Suíça, Itália, Alemanha e EUA, onde em 1994 fundou o PREA, reconhecido como partido político em 1997.