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Lula aproveita sucesso do filme "Ainda estou aqui" em ato evocativo dos ataques no Brasil

Fernanda Torres foi premiada nos Globo de Ouro e considerada a melhor atriz dramática.

08 de janeiro de 2025 às 17:51

O presidente Lula da Silva tentou esta quarta-feira aproveitar o sucesso mundial do filme brasileiro “Ainda estou aqui”, que esta semana nos EUA consagrou Fernanda Torres com o Globo de Ouro para melhor atriz dramática, e fez sucessivas citações à obra ao discursar na cerimónia que lembrou os dois anos dos violentos ataques a prédios públicos em Brasília em 8 de Janeiro de 2023. O evento, que deveria ter sido uma cerimónia de Estado, teve em vários momentos um cunho eleitoral e de culto à figura do veterano governante, de 79 anos.

“Hoje é dia de dizermos alto e bom som, ‘ainda estamos aqui’. Estamos aqui para dizer que ainda estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planeavam os golpistas do 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui porque é preciso lembrar, para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça. Se estamos aqui, é porque a democracia venceu”, disse Lula ao evocar os dois anos dos ataques de seguidores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal e ao palácio presidencial, invadidos e brutalmente vandalizados.

Para não restarem dúvidas da intenção de se apropriar do sucesso mundial do filme para, de alguma forma, engrandecer o seu próprio governo, que não teve nada a ver com a produção ou financiamento da obra, o presidente anunciou a criação de um prémio para galardoar defensores dos Direitos Humanos a que foi dado o nome de Eunice Paiva, em cuja história real “Ainda estou aqui” foi baseado. Eunice, interpretada no filme por Fernanda Torres, era viúva do deputado Rubens Paiva, raptado, torturado e morto em 1971 pelo regime militar que então governava o Brasil com mão de ferro, e ela lutou corajosamente contra tudo e contra todos até ter esse crime reconhecido oficialmente quarenta anos depois, já que o corpo do marido nunca foi encontrado.

Ao contrário do apelo à união e à pacificação do Brasil, que se esperava fosse a tónica da cerimónia, Lula da Silva afirmou que a punição aos que participaram nos ataques tem sido e vai continuar a ser implacável e que ninguém ficará livre das suas responsabilidades, inclusive os mandantes. Em nenhum momento Lula acusou Jair Bolsonaro de nada, mas em várias citações era claro que o antigo presidente, que está a ser investigado por tentativa de golpe de Estado, era o destinatário das suas palavras.

“Sempre seremos implacáveis contra quaisquer tentativas de golpe. Os responsáveis pelo 8 de Janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente, mas todos pagarão pelos crimes que cometeram”, acrescentou Lula.

Após os discursos e a entrega de 21 obras de arte danificadas pelos radicais e que foram restauradas nos últimos dois anos, Lula e parte dos convidados foram para o lado de fora do Palácio do Planalto, um dos prédios vandalizados em 2023, e deram um simbólico “Abraço à Democracia” na Praça dos Três Poderes. Mas os comandantes militares, o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e diversas outras autoridades não participaram, depois de verem que a praça estava cheia de bandeiras do Partido dos Trabalhadores, PT, o partido de Lula. O discurso também desagradou algumas pessoas, por considerarem uma longa autohomenagem ao seu percurso pessoal e político.

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