Uma violenta operação da polícia, que usou um grande efectivo e blindados, deixou esta sexta-feira pelo menos oito homens mortos na favela Vila Cruzeiro, que faz parte do Complexo da Penha, na zona norte da cidade brasileira do Rio de Janeiro. Enquanto os intensos tiroteios aconteciam, moradores desesperados sacudiam lençóis brancos nas janelas, pedindo paz.
Os confrontos começaram pouco depois das quatro horas da madrugada, um horário em que, pela lei, a polícia não pode desencadear operações desse tipo, e duraram até perto das seis horas. Casas e carros de moradores foram atingidos e tiveram vidros estilhaçados e paredes trespassadas pelos projécteis de grosso calibre.
A acção foi uma operação conjunta da Polícia Militar do Rio de Janeiro com a Polícia Rodoviária Federal e, oficialmente, tinha como objectivo capturar membros de uma quadrilha especializada no roubo de cargas. Até perto das 12 horas locais, 15 horas em Lisboa, as oito vítimas não tinham sido identificadas nem se sabia se pertenciam ou não ao grupo criminoso que motivou a operação.
Milhares de pessoas não puderam sair de suas casas para irem trabalhar, com medo de serem atingidas. Pelo menos 17 escolas da região também não puderam ter aulas, e até as unidades de saúde da Vila Cruzeiro foram fechadas.
A Polícia Militar exibiu à imprensa sete fuzis, quatro pistolas e 12 granadas que, segundo a corporação, foram encontradas com os oito homens abatidos. Emissoras de televisão cobriram ao vivo com helicópteros parte da operação, tendo sido possível ver-se agentes comemorando efusivamente o resultado da ação, mais uma em que há fortes suspeitas de que as vítimas, independentemente de realmente serem ou não criminosos, foram executadas pelos agentes.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal confirmou a validade de limitações impostas em 2020 à polícia do Rio de Janeiro para operações em favelas durante a pandemia, mas que nunca foram respeitadas, e que, entre outras coisas, proíbem desencadear acções durante a noite. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou também dias atrás ter ordenado às chefias das polícias a adopção de medidas para reduzir drasticamente a letalidade policial em operações nas favelas, mas, pelos vistos, os agentes não sabem disso ou não ligam à determinação.