O número de pessoas mortas esta terça-feira pela polícia na favela da Vila Cruzeiro, na zona norte da cidade brasileira do Rio de Janeiro, subiu de 11 para 21 depois de os confrontos entre agentes de elite da Polícia Militar e supostos traficantes terem recomeçado. O número foi confirmado às 15h45 locais, 19h45 em Lisboa, e as vítimas fatais poderão ser ainda mais do que as divulgadas, pois a essa hora os tiroteios continuavam.
Organizações de Direitos Humanos, como a Amnistia Internacional, o Instituto Marielle Franco e o Observatório de Favelas já tinham a essa hora pedido o imediato cessar da operação policial, para evitar novas mortes. Essas instituições denunciaram que a polícia não estava a tentar prender ninguém, estava a executar suspeitos na via pública, num novo massacre das forças de segurança num bairro pobre do Rio de Janeiro, ação, realçaram as entidades, que seria impensável num bairro nobre, evidenciando o preconceito e a discriminação das autoridades.
A Vila Cruzeiro, uma favela controlada pela fação criminosa Comando Vermelho, foi invadida perto das quatro da madrugada, horário local, oito horas da manhã na capital portuguesa, por um grande efetivo do temido BOPE, o Batalhão de Operações Policiais Especiais, a tropa de elite da Polícia Militar. Operações desse tipo estão proibidas em favelas do Rio de Janeiro pelo Supremo Tribunal Federal, e, mesmo que não estivessem, a lei não permite ações policiais antes das seis horas da manhã.
Entre os mortos está ao menos uma pessoa inocente, uma senhora de 41 anos que saía de casa para trabalhar e foi atingida por um tiro de fuzil de guerra na favela ao lado, a Favela da Chatuba, quando a invasão à Vila Cruzeiro começou. Os confrontos cessaram a meio da manhã, quando foram divulgados os primeiros 11 mortos, e tudo parecia ter voltado ao normal quando os tiroteios recomeçaram após a hora de almoço e mais 10 pessoas foram mortas e outras sete feridas.
Indiferente aos protestos da imprensa e de instituições de Direitos Humanos brasileiras e internacionais, o governo e a polícia do Rio de Janeiro afirmaram esta tarde que a operação foi um grande sucesso e que criminosos perigosos foram mortos, não obstante as vítimas nem ao menos terem sido ainda identificadas nem se saber se eram ou não bandidos. Um ano atrás, na favela do Jacarezinho, na zona sul do Rio de Janeiro, uma ação semelhante da polícia deixou 28 pessoas mortas, um agente e 27 supostos bandidos, que depois se soube terem sido muitos deles executados à queima-roupa, desarmados e alguns até de costas.