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Quarenta homens impediram fuga de 26 mil crocodilos de português

Na noite do ciclone em Moçambique, quatro dezenas de “magníficos” reergueram muros derrubados pelo vento numa quinta.

27 de março de 2019 às 01:30
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Quarenta homens impediram fuga de 26 mil crocodilos de português

Na noite em que o centro de Moçambique foi devastado pelo ciclone ‘Idai’, 40 "homens magníficos" arriscaram a vida enfrentando ventos de quase 200 quilómetros por hora para manter intactos os muros da quinta do português Manuel Guimarães, impedindo a fuga de 26 mil crocodilos. "Seria uma desgraça terrível", diz o empresário agradecido.

Em vez de irem ter com as suas famílias e protegerem as suas casas, os 40 empregados de Manuel Guimarães passaram a noite ao relento, junto aos tanques dos crocodilos, erguendo vedações improvisadas com chapas isotérmicas e bambu de cada vez que o vento terrível derrubava os muros de tijolos e cimento que separavam os répteis do exterior.

"Sabíamos que se o muro desabasse era um desastre total, não era fácil controlar estes animais lá fora", disse à Lusa o chefe dos trabalhadores, Anísio Chinguvo. "Não é fácil falar disto, dói muito. Cada um pensava ‘eu vou perder a minha família, os meus filhos’, para defender um crocodilo", conta.

Foram duas noites sem dormir nem arredar pé, mas a missão foi coroada de êxito: nem um só crocodilo fugiu e Manuel Guimarães não esconde a gratidão, assim como o alívio. "Seria o pânico total. Estaríamos todos, uma cidade inteira, a apanhar crocodilos, a comunidade internacional. Era impensável ter 26 mil crocodilos à solta, especialmente os grandes", afirma.

Mas nem tudo correu bem nessa noite. Manuel não esconde as lágrimas ao falar de João, um trabalhador que foi incumbido de levar as vacas para locais mais altos e que, por isso, não estava em casa quando as águas lhe levaram os quatro filhos.

Emocionado, o empresário de 63 anos diz que vai construir uma casa e dar um terreno ao "senhor João". "Mas nunca lhe posso devolver os filhos", lamenta-se.

Rodrigo Sebastião ameaçou cortar a linha do comboio para salvar as vacas

Quando o ciclone inundou as terras de Rodrigo Sebastião, as vacas refugiaram-se na linha do comboio, único local elevado que escapou.

Desesperado, o empresário português - que é filho de Arménio Sebastião, o emigrante português desaparecido desde 2016 - chegou a ameaçar cortar a via férrea para salvar o gado.

A situação está agora mais calma e as águas já começaram a descer. "Neste momento está tudo normalizado", disse à Lusa.

468 mortos e quase dois milhões de pessoas afetadas

O número de vítimas do ciclone ‘Idai’ em Moçambique voltou ontem a subir para os 468 mortos, depois de na véspera o balanço se ter mantido inalterado.

As Nações Unidas estimam o número de afetados que necessitam de assistência humanitária em cerca de 1,85 milhões de pessoas e lançaram um apelo de urgência para angariar 249 milhões de euros para os próximos três meses.

António Guterres, secretário-geral da organização, diz que a recuperação "vai levar tempo".

PORMENORES 

Sete por contactar

O número de portugueses por localizar em Moçambique caiu para sete, revelou o secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, admitindo que se tratam de pessoas que não têm meios de contacto permanente, como telemóveis.

Voo adiado devido a avaria

O avião que ia partir ontem para Moçambique com material da Proteção Civil ficou em terra devido a problemas técnicos relacionados com uma avaria numa roda do aparelho, devendo partir hoje. A aeronave transporta material de emergência e equipamento para sustentação logística da Força Operacional Conjunta portuguesa que já está no terreno.

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