Energia está armazenada sob a forma de vapor no subsolo do vale do Rift.
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O Quénia é o principal produtor africano e oitavo a nível mundial de energia geotérmica, uma fonte que explora há mais de 30 anos e quer começar a exportar a partir de 2020 para os países vizinhos.
A energia está armazenada sob a forma de vapor no subsolo do vale do Rift, uma região vulcânica onde está a ser construído o segundo campo geotérmico do país que poderá produzir até 465 megawatts (MW) de energia quando estiver concluído.
Para já, o ambicioso projeto, localizado em Menengai, a 180 quilómetros da capital queniana, Nairobi, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e por parcerias público-privadas que envolvem a empresa estatal Companhia de Desenvolvimento Geotermal (GDC, na sigla inglesa) está ainda na primeira fase, com capacidade para 105 MW.
A central deve começar a injetar energia na rede a partir de junho de 2021 e integra os planos governamentais que preveem que a energia geotérmica venha a ser a principal fonte energética deste país da África Oriental.
"É uma fonte sustentável, disponível, fiável, conveniente, eficiente em termos de custos e a preços competitivos. É este o caminho que queremos seguir", assegurou o secretário principal do ministro da Energia, Joseph K. Njoroge, num encontro com jornalistas, na terça-feira, em Nairobi, capital do Quénia.
Com um potencial estimado de 10 mil MW e uma capacidade já instalada de 662 MW, os campos geotermais contribuem atualmente para quase 50% da energia consumida no país e o seu desenvolvimento ajudará a cumprir um dos desígnios do Governo queniano: fazer a eletricidade chegar a 100% da população em 2022.
O Quénia possui uma capacidade total instalada de cerca de 2.700 MW com um 'mix' energético composto por fontes hídricas (860 MW), termoelétricas (820 MW), geotérmicas (660 MW), eólicas (340 MW) e solares (50 MW).
Segundo Joseph K. Njoroge, o objetivo é, em 2022, aumentar a capacidade instalada para 4.000 MW, dos quais cerca de 900 serão de origem geotermal.
O objetivo seguinte é exportar, tendo o Governo já feito um acordo com o Ruanda para começar a fornecer energia geotérmica, a partir do próximo ano, e está a "trabalhar nas interconexões" necessárias para poder fazer o mesmo com potenciais clientes, como a Tanzânia ou a Etiópia, adiantou o secretário principal.
A força do vapor mostra-se em pleno durante uma visita ao campo de Menengai, implantado numa extensa área onde ainda decorrem várias perfurações, prevendo-se que entre em funcionamento dentro de dois anos.
E quando o diretor-geral do Departamento de Recursos Geotermais da GDC, Cornel Ofwana, dá a ordem de abertura do poço, uma gigantesca coluna de vapor sai disparada para a atmosfera, libertando-se com o som estrondoso de um avião a levantar voo e um odor sulfuroso.
É esta energia -- o vapor submetido a alta pressão -- que vai percorrer as centenas de quilómetros de tubagens que estão a ser espalhadas pelo campo e que irá acionar as turbinas que vão abastecer de eletricidade aproximadamente 500.000 famílias e 300.000 pequenos negócios desta região rural.
De acordo com as estimativas dos promotores do projeto, Menengai vai também criar postos de trabalho (cerca de 600) fornecer uma nova ambulância ao hospital local, abrir um novo poço de abastecimento de água para a população e evitar a emissão anual de 530.000 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera.
O impacto sobre a comunidade é um dos critérios avaliados pelos doadores do BAD, salienta o diretor-geral do BAD para a África Oriental, Gabriel Negatu.
"Não queremos apenas construir infraestruturas, queremos mudar vidas. Se construímos estradas, isso obviamente afeta a vida das pessoas, um percurso que demorava três dias passa a levar menos tempo. Se construímos infraestruturas de energia, mais pessoas terão eletricidade e isso tem impacto na educação", exemplificou.
O diretor regional do BAD, que disponibilizou cerca de 100 milhões de dólares (na ordem dos 90 milhões de euros) para Menengai através do Fundo Africano de Desenvolvimento, adiantou que a aposta da instituição passa também pela diversificação dos instrumentos financeiros.
Para Gabriel Negatu, "a chave é o financiamento misto", o que leva o BAD a apoiar projetos que envolvem PPP, como o campo de Menengai.
Admite, contudo, que as parcerias público-privadas são muito complexas: "O processo tem sido um desafio", reconheceu.
Menengai é o primeiro projeto de desenvolvimento geotérmico do Quénia onde está a ser implementado um modelo de PPP: a empresa pública GDC é detentora e responsável pelo desenvolvimento do vapor, fornece-o aos operadores privados que convertem o vapor da energia geotérmica em energia elétrica e esta é vendida posteriormente à companhia pública queniana (Kenya Power).
A central anterior, Olkaria, a cerca de cem quilómetros de distância, foi inaugurada em 1981 e tem sido também desenvolvida em várias fases.
Foram necessárias quase 30 anos para que o Quénia assumisse a energia geotermal como uma prioridade e conseguisse convencer investidores e doadores internacionais a apostarem no poder do vapor.
A Lusa viajou a convite do Banco Africano de Desenvolvimento.
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