O Mundo foi ontem surpreendido com a notícia veiculada por um jornal regional francês, segundo a qual Osama bin Laden morreu no início deste mês, alegadamente vitimado pela febre tifóide, no Paquistão. A morte não foi confirmada nem por Islamabad nem França ou os EUA. Também o presidente francês, Jacques Chirac, veio a público sublinhar que a informação do ‘L’Est Republicain’ não foi confirmada e anunciou a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades pela fuga de informação.
Citando um relatório secreto da DGSE (serviços de espionagem franceses), o jornal afirma que a informação foi comunicada à França “por uma fonte fidedigna” e, para provar que a espionagem francesa levou a sério os relatos, publicou o texto do relatório da DGSE sobre o assunto. Foi esta a razão do incómodo de Chirac, que não fez qualquer esforço para negar a veracidade do documento.
“Segundo fonte habitualmente fiável, os serviços secretos sauditas estão convencidos de que Osama bin Laden está morto”, lê-se no relatório, no qual mais adiante se afirma que o chefe da al-Qeada sofreu, no passado dia 23 de Agosto, “uma grave crise de febre tifóide” quando estava no seu esconderijo da zona montanhosa na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. A intensidade da crise “causou uma paralisia parcial dos seus membros inferiores”. “A 4 de Setembro, os sauditas recolheram os primeiros testemunhos da sua morte”, lê-se ainda no texto, segundo o qual estava a ser procurado o local da inumação.
A seriedade da informação fica sublinhada, como o jornal faz questão de referir, pelo facto de Chirac e o governo francês terem sido prontamente notificados.
Depois de as autoridades francesas, paquistanesas e norte-americanas terem ficado aquém de uma confirmação ou desmentido da notícia, a TV por cabo CNN divulgou informações de fontes da espionagem da Arábia Saudita segundo as quais bin Laden está vivo, mas enfraquecido devido a uma doença transmitida por água contaminada.
Para alguns analistas, como o perito em terrorismo Peter Bergen, a morte do líder da al-Qaeda não poderia passar em silêncio nos meios de informação islâmicos, pelo que a notícia é pouco credível.
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, declarou “não ter conhecimento” da morte de Osama bin Laden, referida numa nota dos serviços secretos da França, publicada por um jornal daquele país.
Inquirida pela se considerava credíveis tais informações, Rice respondeu não ter qualquer comentário a fazer porque não tinha conhecimento da morte do líder da al-Qaeda.
ARÁBIA SAUDITA NÃO TEM PROVAS
As autoridades sauditas garantiram sábado à noite não possuirem qualquer confirmação da morte de Osama bin Laden. Num comunicado difundido em Washington, a embaixada da Arábia Saudita nos EUA fez saber que Riade não possui qualquer prova da morte do líder da al-Qaeda.
A DOENÇA QUE MATOU ALEXANDRE O GRANDE
A febre tifóide conta no seu currículo de vítimas figuras como Alexandre o Grande. É uma doença causada por uma bactéria que existe em todo o Mundo e pode ser contraída por meio da ingestão de comida ou água contaminada com fezes de uma pessoa infectada.
Refira-se que os sintomas da febre tifóide são numerosos e atípicos, incluindo febres elevadas, arrepios, diarreia, dores de cabeça e de estômago, dores musculares, etc. Acrescente-se que este último sintoma pode exprimir-se em crises debilitantes, o que explica a dificuldade de movimentos de que, segundo relatório da Polícia secreta francesa, terá padecido Osama bin Laden em Agosto passado. Actualmente, a doença é facilmente curável mediante aplicação atempada de antibióticos.
A LONGA CAÇA FRUSTADA AO 'INIMIGO NÚMERO UM'
A caça a Osama bin Laden começou logo após o 11 de Setembro de 2001. A administração do presidente George W. Bush deu-o muito cedo como responsável pelos atentados e conseguiu o apoio dos parceiros da NATO para lançar um ataque ao Afeganistão a 7 de Outubro de 2001.
No dia 20 desse mês, numa operação secreta que até hoje Washington recusa confirmar, uma equipa de tropas especiais da Delta Force tentou entrar em Kandahar para capturar o líder da al-Qaeda e o chefe dos talibans, mullah Omar. A operação fracassou devido a uma resistência feroz e bem organizada dos talibans.
Em Dezembro, depois de os líderes talibans, e presumivelmente bin Laden, terem escapado de Kandahar, a caça concentra-se em Tora Bora, nas Montanhas Brancas, na zona leste de fronteira com o Paquistão. O complexo de grutas onde presumivelmente estavam escondidos os líderes perseguidos foi alvo de bombardeamentos durante semanas. A 17 de Dezembro, o último complexo de grutas e cavernas foi tomado e foram feitos inúmeros prisioneiros, mas uma vez mais Omar e Laden escaparam.
Desta feita havia informações que o davam como refugiado do outro lado da fronteira, no Paquistão. Segundo alguns, nunca mais abandonou esse refúgio, beneficiando da cumplicidade de tribos e clãs que se mantêm à margem do poder do governo do presidente Pervez Musharraf.
Muitos têm sublinhado a ironia de o ‘inimigo público n.º 1’ dos EUA ter sido em tempos um dos seus aliados. De facto, em plena Guerra Fria, quando o inimigo mais temido era a União Soviética, bin Laden foi apoiado pelos EUA, que financiaram algumas das suas operações para repelir a invasão soviética do Afeganistão, lançada em 1979. Além do apoio financeiro foram fornecidos aos afegãos, e a Laden, mísseis e outro material bélico.
PRIMEIRA OFENSIVA
A primeira grande ofensiva para encontrar bin Laden foi levada a cabo em Novembro de 2001, quando ainda prosseguia a guerra contra os talibans.
TORA BORA
Em Dezembro de 2001, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, anuncia que o líder da al-Qaeda está refugiado nas montanhas de Tora Bora. A região foi fortemente bombardeada pela aviação americana.
CAXEMIRA
Em Fevereiro de 2002, forças especiais norte-americanas dão caça a bin Laden na Caxemira paquistanesa. Mais uma vez, em vão.
'AS OUTRAS MORTES' DO TERRORISTA
DEZEMBRO DE 2001
Em Dezembro de 2001, a Fox News cita um líder taliban e noticia que bin Laden tinha morrido devido a doença pulmonar.
JANEIRO DE 2002
O presidente do paquistão, Pervez Musharraf, afirmou no início de 2002 que provavelmente bin Laden estava morto.
JULHO DE 2002
Em Julho de 2002, o chefe da unidade de contraterrorismo dos EUA, Dale Watson, disse que bin Laden “já não está entre nós”.
OUTUBRO DE 2002
Em Outubro de 2002, o presidente afegão, Hamid Karzai, também anuncia a “provável” morte de bin Laden.
BIN LADEN, O 'FUGITIVO'
1957 Nasce em Yeddah, na Arábia Saudita.
1979 Promove uma marcha no Afeganistão que visa unir os mujahedines contra as tropas soviéticas. Recebe treino militar da CIA.
1984 Lança-se na luta contra os soviéticos. Nesta década, funda a al-Qaeda, um grupo guerrilheiro pró-afegão, que visa atacar os Estados Unidos.
1991 É expulso da Arábia Saudida acusado de actividades contra o governo. Transfere-se para o Sudão, de onde volta a ser expulso por pressão de Washington.
1995 Declara a 'fatwa' (decreto religioso) contra os Estados Unidos.
1998 Funda a Frente Islâmica Internacional para a Jihad (Guerra Santa) contra os EUA.
2001 Vive no Afeganistão a convite do movimento talibã.
ATENTADOS QUE LHE SÃO ATRIBUÍDOS
1993 Carro-bomba contra o World Trade Center, causa seis mortos e mil feridos.
1995 Um carro com explosivos mata 6 pessoas em Riade, Arábia Saudita.
1996 Um camião explode na base militar de Dhahran, na Arábia Saudita, causando 19 mortos.
1998 Explosões nas embaixadas dos EUA em Nairobi, Quénia, e Dar-es-Salaam, na Tanzânia, provocando 230 mortos.
2000 No porto de Aden, no Iémen, uma bomba contra o navio de guerra americano 'Cole' causa 17 mortos e 30 feridos.
2001 Atentados de 11 de Setembro, no World Trade Center, em Nova Iorque, e no Pentágono, em Washington, fazem mais de 2000 mortos.
2004 Atentados à bomba em quatro comboios nos arredores de Madrid causam a morte a 191 pessoas e ferem mais de 1700.
MENSAGENS DE BIN LADEN
1998 No início do ano foi divulgado um vídeo na internet no qual bin Laden lançava uma ‘fatwa’, decreto religioso, apelando a que os muçulmanos matem os americanos “onde quer que se encontrem”
01/11/99 Em entrevista publicada na ‘Time’, Osama bin Laden afirma que foi lançada uma ‘fatwa’ instando os muçulmanos a libertar os lugares santos na Palestina e Arábia Saudita
13/12/01 EUA divulgam vídeo no qual Osama bin Laden fala com auxiliares da al-Qaeda, no Afeganistão. A gravação implica bin Laden no 11 de Setembro (11/9)
29/10/04 A TV árabe al--Jazeera divulga um vídeo de 18 minutos no qual bin Laden se dirige aos norte-americanos assumindo responsabilidade pelo 11/9 e ameaçando com novos ataques
19/01/06 Uma gravação áudio divulgada pela al-Jazeera revela nova mensagem de bin Laden aos norte-americanos
23/04/06 A al-Jazeera divulga parte de um vídeo do líder da al-Qaeda no qual acusa o Ocidente de fazer uma cruzada sionista contra o Islão
23/05/06 Numa gravação de áudio de cinco minutos bin Laden comenta o julgamento de Zacarias Moussaoui e a situação dos presos de Guantanamo Bay
30/06/06 Um ‘site’ islâmico na internet divulga uma gravação na qual bin Laden elogia Abu Musab al-Zarqawi, a quem chama “leão da guerra santa”
07/09/06 Um vídeo de bin Laden foi divulgado quatro dias antes do quinto aniversário dos atentados de 11 de Setembro. Temeu-se que as imagens fossem sinal para novos atentados
MUSHARRAF FOI AMEAÇADO COM A "IDADE DA PEDRA"
O presidente Pervez Musharraf concedeu uma polémica entrevista à cadeia de televisão CBS, durante a qual afirmou, nomeadamente, ter sido ameaçado, logo a seguir aos atentados de 11 de Setembro nos EUA, pelo então vice-secretário norte-americano, Richard Armitage, de que o Paquistão seria bombardeado até “regredir à Idade da Pedra” se não cooperasse na luta antiterrorista.
Na referida entrevista, conduzida pelo jornalista Steve Kroft, Musharraf afirmou que Armitage teria declarado: “Preparem-se para ser bombardeados e para regredir à Idade da Pedra.” Mas, quando instado a adiantar pormenores, o líder paquistanês escusou-se a fazê-lo, justificando a recusa com o lançamento, em breve, de um livro de sua autoria em que o assunto é abordado. Armitage desmentiu já categoricamente ter proferido estas palavras. “Nunca ameacei recorrer à força militar”, sublinhou. “Afirmei simplesmente que o Paquistão ou estava connosco, ou contra nós”, garantiu.
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