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"Suposto" golpe de Estado na Guiné-Bissau é "tentativa desesperada do presidente" Embaló, diz oposição

Grupo de militares anunciou quarta-feira ter tomado o poder na Guiné-Bissau. Espaço aéreo do país foi entretanto reaberto.

27 de novembro de 2025 às 14:11

 A Coligação PAI Terra Ranka (PAI-TR), liderada por Domingos Simões Pereira, interpretou esta quinta-feira o "suposto golpe de Estado" na Guiné-Bissau como uma "tentativa desesperada" do presidente para travar a proclamação dos resultados eleitorais.

"Apurados os resultados provisórios nos círculos eleitorais, nas regiões e a nível nacional, ficou claro que Fernando Dias da Costa, o candidato apoiado pelas Coligações PAI-TR e API-CG e por várias outras plataformas políticas, foi escolhido para ser o próximo Presidente da República da Guiné-Bissau", lê-se num comunicado da Coligação PAI-TR, divulgado na página do Facebook de Domingos Simões Pereira.

No comunicado, assinado pelo coordenador Agnelo Regala, a coligação indicou que na quarta-feira, véspera do agendado anúncio dos resultados eleitorais, "o país foi surpreendido por um estranho golpe de Estado cujos contornos ainda estão por esclarecer, supostamente para derrubar o Presidente". "No decurso do suposto golpe de Estado, forças militares invadiram as instalações da diretoria de campanha do candidato Fernando Dias da Costa, numa altura em que este e o presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, se encontravam reunidos com observadores internacionais para avaliar o processo eleitoral", acrescenta-se.

Dessa invasão, prossegue a coligação, "resultou a detenção de Domingos Simões Pereira e de dois dos seus seguranças, bem como de Octávio Lopes, mandatário nacional do candidato Fernando Dias da Costa", sendo que "os detidos foram conduzidos às instalações prisionais da 2.ª Esquadra em Bissau".

A Coligação PAI-TR condena este "suposto golpe de Estado", considerando-o "uma tentativa desesperada de Umaro Sissoco Embaló para travar a proclamação dos resultados eleitorais que o colocam como candidato derrotado na primeira volta das eleições presidenciais". Por outro lado, exige "a imediata libertação de Domingos Simões Pereira e dos demais detidos" e a imputação "às autoridades militares a responsabilidade por quaisquer atentados à vida e à integridade física dos mesmos".

A PAI-TR pretende "a retoma e a conclusão do processo de apuramento eleitoral, incluindo o anúncio previsto dos resultados eleitorais, nos termos da lei", condenando "qualquer tentativa de coação junto da CNE com o propósito de adulterar os resultados eleitorais, que dão claramente o candidato Fernando Dias da Costa como vencedor das eleições presidenciais".

Ainda de acordo com o comunicado, a coligação apela à comunidade internacional para que acompanhe "a situação delicada criada com este simulacro de golpe de Estado" e que desempenhe "um papel ativo na busca de soluções para se por fim a esta encenação". Ao povo guineense, apelou a que "se mantenha firme e sereno e que aguarde por posteriores orientações políticas que serão dadas pela Coligação PAI-TR em resposta a esta situação".

Um grupo de militares anunciou na quarta-feira ter tomado o poder na Guiné-Bissau. Numa declaração lida na televisão estatal por um porta-voz do autodenominado Alto Comando Militar para a Restauração da Ordem, os militares afirmaram ter destituído o Presidente, suspendido o processo eleitoral, fechado as fronteiras e imposto recolher obrigatório.

As eleições, que decorreram sem registo de incidentes, realizaram-se sem a presença do principal partido da oposição, o PAIGC, e do seu candidato, Domingos Simões Pereira, excluídos da disputa e que declararam apoio ao candidato opositor Fernando Dias da Costa. O opositor, que reclama a vitória nas eleições presidenciais, denunciou a tomada de poder pelos militares como uma manobra para impedir a divulgação dos resultados eleitorais e revelou que Simões Pereira foi detido.  

O espaço aéreo na Guiné-Bissau, entretanto, foi estas quinta-feira reaberto, informou a Autoridade de Aviação Civil da Guiné-Bissau (AACGB), um dia após os militares tomarem o poder e encerrarem as fronteiras.

No documento a que a Lusa teve acesso, as companhias aéreas comerciais são autorizadas a "efetuarem os seus voos regulares e programados para a Guiné-Bissau e vice-versa", indicou o presidente do conselho de administração da Autoridade da Aviação Civil da Guiné-Bissau, na sequência de uma "autorização excecional" do "Alto Comando Militar para Restauração de Segurança Nacional e de Ordem Pública".

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) vai realizar esta quinta-feira uma cimeira de emergência para adotar uma posição sobre a tomada de poder pelos militares na Guiné-Bissau e a interrupção da ordem constitucional, anunciou a organização.

Na reunião urgente, realizada por videoconferência, os chefes de Estado e de Governo do bloco vão "concertar o posicionamento regional face ao recente golpe de Estado militar na Guiné-Bissau" e a interrupção da ordem constitucional.

O presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, país lusófono que juntamente com a Guiné-Bissau integra a CEDEAO, anunciou em comunicado que participa na cimeira.

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