O recente falecimento do dr. Joaquim Magalhães Mota vem de algum modo trazer à ribalta uma figura política que dela se tinha afastado. Se bem que estes epitáfios tenham uma irreprimível tendência para superlativar as pessoas que dele são objecto, julgo que a memória do dr. Magalhães Mota justifica bem mais do que o simples relato necrológico.
As condições em que exerceu funções governativas e políticas foram de extrema adversidade: no Governo passou por tudo, desde a queda do prof. Palma Carlos ao 11 de Março, às nacionalizações, ao general Vasco Gonçalves, etc.
No PPD confrontou-se com as convulsões internas subsequentes à saída do dr. Sá Carneiro, com os problemas da implantação e da falta de dinheiro, do Verão Quente, para não falar nas sucessivas tentativas que o PCP fez de satelitizar o PPD, faceta da história pouco conhecida mas que constituiu uma ameaça séria e efectiva.
Frente a tudo isto – cada dia era um enredo imprevisível – o dr. Magalhães Mota evidenciou sempre uma tenacidade e uma abnegação ímpares, aliadas a um espírito de grande luta; era ao mesmo tempo um combatente, um sapador e um resistente, conforme as circunstâncias.
Das histórias que podem ser contadas, lembro-me que para contrariar o dr. Álvaro Cunhal – que nos momentos delicados da “unicidade sindical” apregoava números incontáveis de moções sindicais de apoio – cheguei a levar a Conselho de Ministros, na minha então qualidade de secretário, volumosas pastas cheias de papel branco que o dr. Magalhães Mota punha em cima da mesa e dizia serem moções de outros sindicatos e entidades a rejeitar…
Não sendo brilhante a comunicar, era sólido, coerente e lúcido.
No essencial, foi um estrénuo defensor da liberdade, lutou porfiadamente pela subsistência e afirmação do PPD dentro e fora do próprio partido, numa época e quadro político extremamente desfavoráveis.
Quis a ironia do destino que abandonasse o PPD junto com muitos daqueles contra quem o defendeu; quiseram as voltas da vida que a sua intervenção política subsequente se posicionasse em alinhamentos antagónicos com os do partido a quem tanto tinha dado.
Penso que tudo isto não apaga nem desmerece o tributo que o PSD e o Portugal Democrático lhe devem.
Pessoalmente, restam-me as gratas recordações das conversas havidas no decurso dos infindáveis quilómetros que fiz a conduzir o dr. Magalhães Mota (não tinha carta, nem se preocupava com isso) de volta a sua casa no Mucifal, muitas vezes pela madrugada dentro.
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