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O terrorismo moderno apresentou o seu macabro cartão de visita no tristemente célebre 11 de Setembro de 2001. Não nasceu nesse dia. A sua linhagem perde-se na origem dos tempos mas a sua árvore genealógica não é muito difícil de reconstituir.

A história contemporânea, para não ir mais longe, é, em grande parte, a história da maioridade do terrorismo. Que é há muitos anos o terreiro onde extrema direita e extrema esquerda e todos os falsos romantismos, frustrações, desesperos e ressentimentos se encontram e confraternizam.

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O terrorismo não foi uma invenção das gentes da al-Qaeda, do Hamas, da Jihad, da ETA, do Sinn Fein, das FARC ou de qualquer outro membro deste vasto clube. Que, sem excepção, apenas o têm vindo a aprimorar.

Com as mais diversas formas e variantes, foi promovido vezes sem conta por todo o globo com o beneplácito e a inestimável ajuda sobretudo das grandes potências que nele viam o meio mais simples de proteger os seus interesses atacando os dos outros.

O hoje robusto monstro teve meio-mundo a contribuir para a sua engorda com uma "inocência" possível apenas pela incapacidade de prever o seu inevitável percurso futuro. Num processo de gestação lenta mas segura os pioneiros e verdadeiros pais do terrorismo de hoje alimentaram e incentivaram com desvelo as primeiras acções terroristas sérias e organizadas muito especialmente do séc. XX.

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Americanos, Russos, Chineses, Ingleses, Franceses, Espanhóis e praticamente todos os que disputaram territórios coloniais e deles tiveram de se desfazer, e muitos outros, incapazes de se afrontar directamente apuraram com desvelo o modo de o fazer por interposta pessoa. Na sua terra praticava--se discretamente um zeloso terrorismo de estado. Além-fronteiras forneciam dinheiro e armas e escondiam a mão. Forneceram-lhe os primeiros brinquedos de destruição e ensinaram-lhe as regras do jogo. Incendiaram África, o Médio Oriente, a Ásia, quase todo o mundo. Mas esse era o terrorismo "bom", e terrorismo "revolucionário", o terrorismo "libertador", por oposição ao terrorismo mau, contra-revolucionário, aviltante. O dos outros. O terrorismo tinha, então, para os seus promotores, uma (várias) lógica(s), uma razão de existir, e até um (vários) fundamento(s) filosófico(s), a que ilustres nomes da cultura mundial emprestaram os seus nomes com pompa e circunstância. Não lhe faltava nada, para se sentir confortavelmente instalado.

Foi, durante tempo de mais, incentivado pelas "nações livres" e civilizadas para "libertar" os homens (eufemismo para "garantir os seus interesses”), como mais uma vez se anunciou fazer no Iraque, e cortar pela raiz todos os males que qualquer suposto inimigo ameaçava trazer ao mundo.

O terrorismo é filho de todas as mentiras e equívocos de todos os muitos "Bush" e "Blair" da História, agentes episódicos que não representam nenhum tipo de pensamento original, e apenas são encarnações cíclicas e grotescas de personagens de pesadelo que tal como o terrorismo crescem por todo o lado e não têm fim à vista.

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Apesar disso, o melhor que conseguimos, hoje, das "científicas" análises do terrorismo é a simplória e bacoca divisão do mundo entre anti e pró-americanistas, numa propositada, vulgar e redutora extremação, tipicamente futebolística, do pensamento político.

O terrorismo, hoje, sofisticou tudo o que aprendeu, tornou-se incontrolável e já não reconhece os donos. Entra-lhes em casa e destrói tudo. Executa os seus objectivos friamente e não distingue ninguém. Se for preciso, simula acordos e promete emenda. Ainda lambe algumas mãos, mas só para melhor as abocanhar.

Ri-se das anunciadas medidas antiterrorismo, de que todos falam, mas ninguém sabe o que possam ser, nem constam de nenhum cardápio, porque sabe que os fantasmas não se destroem à bomba nem com sofisticados mísseis.

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Tal e qual como os seus pais e criadores, a mentira é a sua verdade, não conhece fidelidades, é sanguinário e impiedoso. Transporta consigo uma macabra herança genética.

É esta, hoje, também, a nossa herança histórica e com ela vamos ter de viver, como com o sol e com a chuva, até que se tenha a coragem de assumir, de vez, a fantástica mentira construída à volta das suas raízes próximas e profundas.

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