Bastou aos nossos leitores manterem contacto com o mundo no dia de Natal através da CMTV para ficarem a saber das urgências fechadas, quais farmácias com escala de serviço, dos partos nas ambulâncias, praga maldita que menospreza o milagre do nascimento, ou da insuportável multiplicação das falhas de serviços essenciais do Estado, desde os cortes de luz ou no abastecimento da água, até às horas infindas no labirinto dos nossos aeroportos. Nada disto significa que a mensagem de Natal do primeiro-ministro seja negativa. Simplesmente não cola a 100% com a realidade. Ambicionar um Portugal maior, com mais rendimentos e menos impostos, faz parte do papel liderante de um Governo. “Estimular a excelência”, perseguir a “mentalidade Cristiano Ronaldo”, nas palavras utilizadas ontem por Montenegro, faz parte desse horizonte aspiracional que lhe cabe desenhar, e para o qual deve mobilizar os portugueses. O problema é a sensação de que sonhamos com o futuro a caminhar com pés de barro. De que não encontramos forma de lidar com dificuldades concretas, do colapso da saúde à falta de habitação, da qualidade débil do ensino à burocracia que nos desmotiva a todos. Talvez fosse melhor enfrentar pequenos problemas, um de cada vez, com método e eficácia, em vez de criar narrativas grandiosas, que só tenderão a saturar os cidadãos à medida que fracassam no objetivo sagrado de melhorar o dia a dia de cada um de nós.
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