"Seria necessário tanto desgaste com a saúde logo no início do Governo?"

Não há boas notícias no Serviço Nacional de Saúde, e isso não é bom para o Governo. A ministra que se manteve no cargo, já o sabíamos, estava condenada a ser uma espécie de ponto focal dos críticos da AD. Tudo o que pudesse correr mal na saúde seria assacado a Ana Paula Martins, porque vem muito desgastada do Executivo anterior. O cálculo político dos estrategas de Montenegro aponta para vantagens nesta situação. Afinal de contas, haver uma ministra muito impopular funciona sempre como escudo para o chefe de Governo.

Também António Costa, como bem nos lembramos, mantinha os ministros mais impopulares durante o máximo de tempo possível - foi isso que transformou Eduardo Cabrita no pára-raios do Governo, com as consequências que sabemos. Só que na saúde a coisa fia mais fino, porque o que está em jogo são matérias de vida ou morte.

E eis que surge mais um caso dramático, de uma grávida que perde o bebé depois de percorrer a via-sacra de cinco hospitais diferentes, como o Correio da Manhã revelou domingo. Ora, isso traz de volta à memória coletiva não só tudo o que tem falhado, como sobretudo a desconfiança de que, na verdade, a situação está cada vez pior.

Tanto desgaste logo no início do Governo seria mesmo inevitável? Com os dados hoje revelados sobre o défice na saúde, a única certeza que nós temos é que, na verdade, mais do que falta de meios, o verdadeiro problema do SNS é a fragilidade da gestão.