É possível que o primeiro-ministro, António Costa, aproveite o debate de hoje, no Parlamento, para responder às críticas feitas nos últimos dias ao pacote de propostas do Governo sobre habitação. Será uma boa oportunidade para medir a temperatura do conflito institucional entre Belém e S. Bento, como se dizia no tempo de Soares e de Cavaco.
Claro, as palavras do antigo Presidente já as levou o vendaval de Marcelo, com o conceito novo que introduziu no dicionário político português. Lei-cartaz. Uma expressão que vai fazer o seu percurso, e que na verdade tem muitos sinónimos, mais à frente no nosso CM o Eduardo Dâmaso vai chamar-lhe “lei-para-inglês-ver”, e podemos encontrar outras formas de dizer o mesmo, lei de fachada, lei do faz de conta, quem sabe até o mais popular “lei para distrair o pagode”.
Mas, qual herdeiro conceptual da lei de Gresham, que ainda hoje paira por aí, depois de Cavaco a inscrever na história da ciência política, ao sintetizar a boa moeda que expulsa a má moeda, a lei-cartaz vai tornar-se vocábulo composto, ganhar realidade própria e crescer como entidade autónoma. Lei-cartaz. Sempre que o Governo anuncie algo que não é exequível, que serve apenas para encher o peito. Há palavras assim - quando são ditas transformam tudo à sua volta, dando sentido novo às coisas que já conhecíamos, mas que ainda não tinham nome.