Um árbitro fala ao telefone para o VAR, através daquilo a que antigamente se chamava um tijolo, um telemóvel antigo sem videochamadas. O caricato episódio coloca-nos nas bocas do Mundo pelas piores razões. Convém, porém, distinguir o essencial do acessório. Eis o essencial: o campeonato deste ano só tem uma entrada direta na Liga dos Campeões, e para isso há 4 candidatos. Esse lugar único dará ao feliz contemplado uma quantidade de dinheiro muito próxima do total recebido este ano por todos os clubes portugueses apurados para a Champions. É uma fortuna. Entrar ou ficar de fora fará uma diferença abissal. A agravar, há o empobrecimento geral do negócio, o desinteresse global pela nossa Liga, e a fuga de investimentos que deixará à míngua muitos dos que vivem deste circuito do dinheiro, de forma mais ou menos lícita. Não há pão, todos ralham, ninguém tem razão, grassa o desespero. O ambiente ensandecido da Liga portuguesa deste ano é fruto de tudo isto, e tenderá a agravar-se à medida que a luta pelos pontos for mais decisiva. Como ontem me dizia o comentador da CMTV António Salvador, o futebol português atravessa uma fase muito perigosa. Qualquer faísca pode desencadear uma explosão. Trata-se de um pasto fácil para a violência, para a intolerância e para todo o género de desvios sociais. É fundamental travar a espiral de irracionalidade. Antes que seja tarde demais.