Cavaco Silva é um político especial. Fazedor em terra de teóricos, obteve por 4 vezes mais de 50% dos votos em eleições nacionais. É ainda o primeiro-ministro com mais tempo no cargo em democracia, e trouxe a Presidência da República para a área do PSD, que a mantém vai para 20 anos. Cavaco tem o dom particular de animar a direita, que se sente reforçada sempre que ele aparece, e de irritar a esquerda, que o ataca como se estivesse a preparar o regresso à política ativa. Assim é, de novo, por ocasião do lançamento de um livro sobre a arte de governar, arte em que detém uma rara experiência em Portugal. Numa altura em que o PSD está a poucos dias de obter uma maioria absoluta na Madeira, com a consequente pulverização do PS e subalternização do Chega, o surgimento de rompante do antigo chefe de Estado reforça o sentimento de que os sociais-democratas confiam num novo ciclo. Cavaco fez um ataque demolidor a António Costa, ao defender que a governação deve olhar para o longo prazo e não para a manutenção do poder. Mas sobretudo voltou a mostrar que está disponível para se empenhar na defesa de Montenegro como solução de futuro. Nesse ponto em particular, Cavaco entra também em duelo com Marcelo, muito mais reservado nesta matéria. Qual o peso do apoio de um ex-Presidente a um líder partidário? É uma dúvida que nos vai acompanhar até à prova dos nove, que será dada pelo voto do povo.
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