O desequilíbrio do mercado imobiliário em favor dos proprietários acentuou-se ao ponto de lançar para fora do sistema uma fatia significativa de potenciais inquilinos. Os dados do INE sobre a subida de rendas mostra que os senhorios continuam a ganhar poder nesta relação de forças. As manifestações por causa da habitação vão, seguramente, continuar. Mas não é só a contestação social que vai crescer. Talvez não haja noção integral de como é explosiva para a economia e para a sociedade a situação causada pela falta de casas para comprar e arrendar a preços que sejam compatíveis com o nível dos salários. A acumulação de jovens em casa dos pais até cada vez mais tarde reforça a estagnação demográfica e económica. A falta de lugares para viver reduz a mobilidade geográfica para uma série de profissões em áreas como a saúde ou o ensino. O pior é que olhamos para a falta de casas para professores, médicos ou jovens em início de carreira e não vemos qualquer horizonte de melhoria. À crise do primeiro emprego parece ter sucedido a crise da primeira habitação. Prova de como os problemas que se criam, muitas vezes por simples birra ideológica, causam distúrbios muito mais graves, lá à frente. O Governo precisava de pedir ajuda para enfrentar o drama da habitação. Infelizmente, os sinais dados pela solitária reconfirmação das leis vetadas pelo Presidente vão no sentido contrário.