Há uma boa notícia na impensável invasão do Capitólio incentivada por um presidente em funções: O ataque matou a hipótese de Donald Trump se candidatar à presidência dos EUA daqui a quatro anos e comprometeu, provavelmente, outras ambições políticas do mais pirómano dos ocupantes da Casa Branca.
A má notícia é que o falhado golpe, à maneira latino-americana, abre um perigoso precedente. Porque se é óbvio que Trump tinha o direito a impugnar resultados eleitorais, perdeu toda a razão ao fazê-lo sem evidências. E mais ainda quando mandou a sua guarda pretoriana de apoiantes acéfalos invadir o coração da democracia norte-americana enquanto ele ficava covardemente de telecomando na mão a ver pela TV a ferida da divisão dos EUA a abrir-se perigosamente.
Qual então a razão de Trump ter ido buscar lã sabendo-se que havia uma forte hipótese de ser tosquiado? Ele sabe que o seu fim de ciclo pode abrir uma caixa de Pandora criminal e fiscal e quer perpetuá-lo. Talvez por isso, como noticiou o New York Times, Trump tenha avaliado junto de colaboradores aplicar a si próprio um inacreditável perdão, como fez com os amigos.
A concretização da ameaça de ‘impeachment’ feita ontem para apear Trump antes da chegada de Biden seria justa. Donald Trump não merece uma saída digna.