Nada poderá ser como dantes. Esta é a conclusão imperativa dos trágicos fogos de junho e outubro e da calamitosa seca que ameaça severamente o bem-estar, a segurança e a economia do País.
Nestes dois funestos fenómenos, Governo e regime têm imensas responsabilidades e, na mesma proporção, imensas oportunidades.
Responsabilidades e oportunidades para realizar mudanças reais e investimentos consequentes, se não quiserem converter a política nacional num hediondo espetáculo de hipocrisia, nem os lamentos televisivos em miseráveis lágrimas de crocodilo.
O que os acontecimentos recentes vieram revelar de modo gritante, sacudindo o País mediático de um irreal romance cor-de-rosa de Verão, tem nomes inconvenientes na nossa imagem: atraso, impreparação e irresponsabilidade.
Atraso do ordenamento territorial e do modelo centralista de organização do Estado; impreparação para responder aos fenómenos críticos do despovoamento, da desertificação e das mudanças climáticas; irresponsabilidade do Estado e dos agentes políticos.
As perdas e os gemidos de um País Real abandonado e entregue à sua sorte só serão justificados por políticas realmente reformistas.
Políticas reformistas que não tardem e tenham a coragem de sair do papel e dos gabinetes do Terreiro do Paço em direção às regiões e ao Interior, sem conservadorismos e preconceitos. E que privilegiem o futuro de médio e longo prazo em detrimento das negociatas político-partidárias de sobrevivência de curto prazo no Poder.
A julgar pelo Orçamento do Estado para 2018 teme-se o pior. Não se vislumbram ali sinais de reformas para o território, a água ou o Estado anquilosado que temos.
Este é um mal endémico com um nome difícil de pronunciar: procrastinação. Um eterno adiamento de uma ação necessária.
Nota final para assinalar o gosto deste regresso no contacto com os leitores do
CM às "Terras do Demo".