Enquanto o Governo surfa a onda publicitária do "défice mais baixo da democracia", o país vai sendo adiado. Reformas? Nem vê-las. Descentralização do Estado? Há uns cartazes nas redes sociais para inglês ver. Planos de investimentos? Um dito-por-não- -dito tático em função da audiência, confirmando um vazio de compromissos reais. E já não falo das promessas de restituição de rendimentos à classe média, metidas na gaveta de 2017.
Um dos exemplos mais flagrantes desta espécie de avestruz em que se tornou o Governo é a gestão política dos fundos do Portugal 2020. A negação da realidade toca quase uma mitomania. Ao contrário do que fervorosamente tem afirmado o ministro Pedro Marques, os dinheiros europeus não estão a ser injetados na economia. Misturando alhos com bugalhos (intenções de investimento com investimentos reais), os recordes do ministro esbarram contra o muro dos números reais.
Comparando o que é comparável (fundos e anos equivalentes), a execução do Portugal 2020 no final de 2016 era inferior em 38% à registada pelo "antecessor" QREN! Ou seja, uma quebra de investimento de quase 1400 milhões de euros em período homólogo.
A realidade das empresas, dos municípios e do próprio Estado evidencia essa paralisia. E em dissonância com o seu colega de governação, até o próprio Ministro das Finanças explicou a quebra histórica do investimento público com a fraca injeção de fundos europeus…
Iludindo os problemas, e adiando a necessária reforma do próprio Portugal 2020, o Governo acelera em "concursos", "aprovações" e "adiantamentos", assim como no autoconsumo para despesas correntes. (Como explicar de outra forma a gula do Ministério da Educação no Fundo Social Europeu?)
Os fundos comunitários são a única alavanca para o crescimento e a coesão do país, mas o meu sentimento hoje é de ‘déjà vu’. No passado vi este filme e não foi bonito.