Provavelmente, a melhor forma de nos tornarmos especialistas na arte do bem injuriar é ao volante de um carro.
Ainda ontem, vinha eu a conduzir na Avenida da República e assim do nada, uma mulher quase bateu no meu carro. Por incrível que pareça, ela estava completamente distraída a pintar os lábios em pleno trânsito lisboeta.
A sorte é que tenho os reflexos apurados e lá consegui desviar-me a tempo de evitar a colisão. Não consegui foi evitar que o meu chá se entornasse em cima da revista que eu vinha a ler. Até comentei isso com um amigo com quem falava no whatsApp. Ela ainda teve a lata de me mandar ir f*d*r! Eu ia responder na mesma moeda mas estava a comer um croissant misto e não se fala de boca cheia.
A norma é abrandar no sinal amarelo e depois acelerar no sinal vermelho. Quanto ao pisca, é apenas um elemento decorativo do carro. A cidade até nem é assim tão grande e como a malta se conhece toda, não há necessidade de sinalizar mudanças de direcção. O carro que segue atrás, sabe para onde queremos ir. Se não souber, é má vontade. Insulta-o!
É também merecido o insulto ao peão que atravessa onde bem lhe apetece e que volta e meia acaba a jantar soro por via intravenosa no Hospital de S. José porque o carro não conseguiu travar a tempo. O gajo até buzinou com mais força mas o pedestre vinha de auriculares a ouvir fado aos altos berros no Spotify e não ouviu a buzina.
No entanto, há um grande sentido de união na estrada. Isso é evidente pela forma como os carros andam coladinhos uns aos outros. Quando há um acidente numa faixa, é normal que haja tanto ou mais engarrafamento na faixa de sentido oposto. Haverá quem diga que é curiosidade mórbida mas isso é má língua.
A solidariedade também é notória na forma como se usam faróis máximos para ajudar os colegas de estrada a ver melhor o seu caminho.
Tudo é facultativo na estrada. Cada um faz o que quer. Desde que o carro caiba, qualquer lugar serve para se estacionar. Os limites de velocidade são meras sugestões. Ao dirigir mais devagar tem-se a oportunidade de se apreciar melhor a paisagem e os buracos na estrada. No entanto, se o carro atinge os 240 km/h há que tirar proveito do motor e bater uma selfie na velocidade máxima.
Um carro que ande mais depressa do que tu é porque vai lá um palerma qualquer cheio de pressa ao volante. Um carro que ande mais devagar do que tu é porque ao volante vai um idiota que pensa que não tens mais que fazer do que andar a passear de carro.
O código da estrada pode ser resumido por apenas duas regras: a prioridade é de quem chegar primeiro e a culpa é sempre do outro. Se sabes insultar, sabes conduzir!
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