A primeira conferência de imprensa do Presidente eleito Donald Trump foi demonstrativa daquilo que podemos esperar da sua presidência: através de ataques e acusações aos jornalistas, Trump - que se gaba de ser mestre a fugir aos impostos - exonera-se de dar explicações sobre relatórios dos serviços secretos que indiciam que o Kremlin detém informações comprometedoras sobre ele e de divulgar informação sobre os negócios opacos do conglomerado Trump na Rússia.
Durante a campanha, Donald Trump mostrou desinteresse na NATO e elogiou a intervenção russa na Síria, apesar dos manifestos crimes de guerra. Independentemente de o Presidente dos EUA estar efetivamente suscetível a chantagem por parte do veterano do KGB Putin, aquilo que sabemos sobre a afeição declarada entre Trump e Putin é grave e devia preocupar a Europa.
A eleição de Trump é uma prova de que a democracia liberal nunca é um dado adquirido, como bem lembrou Barack Obama no seu discurso de despedida. Espero pouco da capacidade da Chanceler alemã Angela Merkel para promover as reformas de que a Europa precisa para se manter unida, mais justa e democrática, e que nada têm que ver com contenção de imigrantes e proteção de fronteiras externas. Com a atual indigência da liderança europeia, nem precisaremos da interferência russa e da indiferença americana: a União Europeia desmoronar-se-á pelas nossas próprias mãos.
Mas talvez a ameaça do duo Trump-Putin acorde os dirigentes europeus para a realidade - sem o fim da austeridade, sem reformas profundas na governação da zona euro e mecanismos de convergência orçamental, social e económica, sem uma verdadeira política interna de segurança e defesa comuns, a União e a Paz na Europa têm os dias contados.
Não podemos continuar a assobiar para o ar.