A Constituição espanhola foi referendada a 6 de Dezembro de 1978 com o voto favorável de 91,8 % dos cidadãos. Consagra Espanha como monarquia parlamentar, com o Rei como Chefe de Estado, símbolo de unidade e perenidade da nação. Ou seja, gostemos ou não, a legitimidade constitucional do Rei enquanto Chefe do Estado espanhol emana da vontade dos povos das diversas nações espanholas, esmagadora e democraticamente expressa.

Diplomata de profissão e republicana dos quatro costados, aqui me confesso incapaz de genuflexão que qualquer (pseudo) Protocolo recomende diante de personalidade emanando de qualquer Casa Real. Admito, por isso, que teria preferido que os nossos vizinhos tivessem optado por outro regime, mais conforme a determinar regularmente quem representa o povo. Mas só tenho que respeitar o que foi inequivocamente determinado, por via democrática, pelos povos de Espanha.

Adotar, em representação política de outro povo, para mais vizinho e fraterno, atitude ostensivamente hostil e grosseira em relação à legitimidade constitucional e democrática do Chefe de Estado de Espanha, como os deputados do Bloco de Esquerda há dias protagonizaram, não é travessura inconsequente: é correr o risco de os espanhóis a entenderem como ingerência na gestão da sua soberania. Ora o Bloco, certamente, não se ficaria, se alguma força espanhola se atrevesse a desmerecer da legitimidade da maioria de esquerda que hoje governa Portugal...

NB: definitivamente, o PSD não abre mão das birras que vêm formatando o seu ADN... Ontem, com a ausência das cerimónias da comemoração do 1º de Dezembro – feriado que a coligação PSD/PP havia abolido, em nome de pretensas razões económicas, castradoras do valor simbólico da data. Sem qualquer ironia, recomendo: continuem, que nós agradecemos!