São grandes e boas as memórias da música urbana portuguesa desde a década de 1980. Desde então um sopro de vento fresco veio transformar a música nacional, abrindo voz para a nova geração portuguesa que já não se reconhecia nos universos da canção ligeira e na de intervenção.
Nasceram assim grupos que deixaram a sua forte impressão digital nas nossas memórias, dos Xutos & Pontapés aos Rádio Macau, dos Sétima Legião aos Mler ife Dada, dos Mão Morta aos Heróis do Mar, entre tantos outros. No meio deles há, claro, o universo dos GNR, grupo que depois de um início onde se cruzavam a pop e as ideias experimentais, ganhou uma linha definida com a inclusão de Rui Reininho, mais do que um vocalista, um letrista exemplar e uma figura ímpar.
Todo esse sonho musical está no CD e DVD ‘GNR, os Primeiros 35 Anos, Ao Vivo’, que reúne desde muitos temas poderosos do grupo até um DVD com a transposição visual deles, incluindo um concerto ao vivo em Alvalade, em 1992. É um documento sobre um grupo que resistiu às rugas e que faz parte da história da música portuguesa.
Não deixa de ser curioso como aqui nos confrontamos com canções que parecem hoje mais datadas (‘Dunas’ é, nesse aspecto, exemplar) e outras que estão tão jovens como então (‘Vídeo Maria’, ‘Morte ao Sol’, ‘Vale Nunca’ ou ‘Homens Temporariamente Sós’). Mas todas elas são reflexo do tempo em que os GNR as criaram e que nos fazem olhar para trás e pensar qual era o pulsar da sociedade portuguesa nesses dias. Estas compilações servem para isso: para ver como envelheceram os grupos e como eles refectiram o seu tempo.