Bob Dylan não é uma personagem linear. O seu comportamento é, muitas vezes, capaz de despistar mesmo os mais sólidos e conhecedores fãs. Se pensarmos na aventura que foi a sua aceitação do Nobel da Literatura percebe-se o estilo do genial criador.
Já não importa muito se ele é poeta ou escritor de canções. É alguém que fez uma ponte entre a cultura e a música popular e esse é um trunfo que lhe permite vencer todos os jogos. Por exemplo, pode parecer complicado compreender como é que alguém que tem sido um autor único decide agarrar em clássicos do cancioneiro popular americano e recriá-los à sua maneira. Mas é isso que Bob Dylan tem feito e continua a fazer, sem que isso lhe cause qualquer gosto amargo.
Tudo isto vem a propósito da edição do triplo CD ‘Triplicate’, que vem na sequência dos seus últimos álbuns de estúdio. Desta vez Dylan recupera 30 temas, onde há uma clara escolha temática. E, consta, ficou muito contente com o resultado do seu trabalho. Mas não deixa de ser curioso como neste disco se nota um fascínio especial pelas canções que Frank Sinatra (um cantor com que Dylan tem muito pouco a ver) popularizou ao longo dos anos. É o caso de ‘Stormy Weather’, ‘As Time Goes By’ ou ‘Stardust’, algumas delas escritas num tempo em que Dylan ainda era conhecido como Robert Zimmerman.
Dylan não é um ‘crooner’ e por isso as versões podem às vezes parecer um pouco exageradas, mas ele é uma personagem única e, por isso, pode-se dar ao luxo de limar estes grandes temas à imagem da sua própria voz. E, assim, este é um disco histórico.