Os Gorillaz são um grupo que se coloca na ténue fronteira que separa a ficção da realidade. Ou, se quisermos, as imagens reais das ilustrações. É esse o feito genial de Damon Albarn (que começou por ser a face dos Blur) e de Jamie Hewlett (o criador da banda desenhada ‘Tank Girl’).
Quando o projecto surgiu, em 2000, não era difícil definir o que movia Albarn: todas as estrelas rock, no auge do sucesso, sentem um desconforto com o mundo que se criou à sua volta. E por isso desejam uma ruptura.
Os Gorillaz, pela novidade, eram isso. E cumpriram esse desígnio ao longo de anos. Albarn era uma das faces mais visíveis da Britpop. E nos Gorillaz a crítica era evidente: figuras animadas substituíam os habituais músicos humanos. Esse universo está presente neste novo álbum, ‘Humanz’, que não por acaso substitui o ‘s’ de ‘Humans’ por um ‘z’ no final.
O próprio Albarn dizia: "Ainda somos humanos? O que é que somos?" Todo o disco está repleto de um olhar crítico sobre a sociedade actual. E, como se não bastasse, Albarn rodeia-se de muitos nomes sonantes, de Grace Jones a Jean-Michel Jarre (escute-se ‘Momentz’), evocando o mundo sem fronteiras musicais dos Gorillaz.
É um disco cheio de melancolia vocal, de que os expoentes máximos são temas como ‘Hallelujah Money’ e ‘Sex Murder Party’.
Todos eles servem às mil maravilhas para ilustrar o teatro de animação criado por Albarn e Hewlett, que brincam com a condição humana da actualidade. E o certo é que, ao escutarmos este disco, podemos perguntar: ainda somos mesmo humanos?