Tal como o Viktor Frankenstein de Mary Shelley, também os membros da Academia de Ciências de Lisboa tiveram que olhar para a sua criatura.
Pena que, ao contrário do médico que decidiu criar vida a partir dos mortos, os donos da língua portuguesa escolham não reconhecer o que fizeram, garantindo que "aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos".
Certo é que recomendam o regresso de hífenes, acentos e até de algumas consoantes mudas, ainda que pelas piores razões. O documento divulgado pela Academia de Ciências de Lisboa mantém que as consoantes são "invariavelmente mudas em todos os países de língua oficial portuguesa" em palavras como ‘inspector’ e ‘projecto’, o que só se pode explicar por surdez. São no mínimo tão mudas quanto em ‘corrector’, só poupado à amputação devido à existência da palavra ‘corretor’, num sinal de que a criatura está para durar.