O atentado que provocou 84 mortes na cidade francesa de Nice gerou uma vaga de indignação nas redes sociais portuguesas. Pena é que não tenha sido dirigida ao terrorista que acelerou ao volante contra a multidão no feriado nacional de 14 de Julho.
Os indignados dedicaram a sua raiva aos órgãos de comunicação social - e sobretudo a este jornal e à televisão e site que lhe estão associados - por mostrarem imagens chocantes. Entre acusações de cumplicidade com o terrorismo a insultos variados veio um pouco de tudo dos habituais ressentidos pela investigação aos desmandos dos seus ídolos e dos adeptos da realidade "que se pode mostrar", como se ocultar consequências fizesse desaparecer causas.
Imagine-se por instantes um mundo em que tivéssemos sido poupados a ver as vítimas dos campos de concentração, a menina vietnamita a correr com a pele queimada pelo napalm, as crianças a morrer de fome na Etiópia ou os encurralados pelas chamas a lançarem-se das Torres Gémeas.
As imagens chocantes existem por a realidade ser muitas vezes chocante. Quem quiser alhear-se tem todo o direito. Mas escusa de exigi-lo a todos.