Juntaram-se os dois à esquina, a tocar a concertina, a dançar o solidó.
Lá em cima está o tiro-liro-liro que consiste num Governo trapezista, entre as exigências de rigor orçamental de Bruxelas e o instinto de sobrevivência que o leva a assumir medidas que aumentam a despesa pública e alimentam o buraco negro do Estado.
Cá em baixo está o tiro-liro-ló de três partidos que se valem da aritmética parlamentar para fazerem ao Governo aquilo que os cucos fazem aos outros pássaros.
Quando os dois se juntam numa esquina solarenga e sem cemitérios, ETAR ou casas assombradas por perto, sobe o imposto municipal sobre imóveis. Tocam a concertina e dançam o solidó, pois uns retiram aos contribuintes milhões para conter o défice e os outros sentem, à maneira de José Afonso, a valentia de alimentar a sanha de esganar a burguesia. Pois só os burgueses têm casas com boa exposição solar e vista privilegiada.
Prosseguindo a música, se o tiro-liro-liro e o tiro-liro-ló virem a pequena que é bonita, apresenta-se bem e parece que tem a face morena, deduzirão que se bronzeia à janela com vista para o mar. Aumente-se, portanto, o IMI à comadre.