António Costa disse ontem que o seu governo "nasceu para enfrentar e resolver desgraças" (SIC). Costa supera-se, a cada dia que passa, no cinismo político camuflado de ironia. Como se os quatro anos do anterior governo, a braços com uma crise gigante e com um programa de ajustamento duríssimo, tivessem sido um passeio. E pior do que isso: como se não lhe tivesse caído no colo, a ele, Costa, um País a recuperar, com a economia e o emprego a crescer, as contas arrumadas e as feridas a sarar.
Tanto assim foi que PS e governo não hesitaram em vender aos portugueses um amanhã radioso, em que Portugal ia crescer a um ritmo estonteante, e tudo devidamente sustentado pelas famosas "contas" de Mário Centeno.
Essa foi a narrativa original. Mas aos poucos, insidiosamente, com frases como aquela, Costa vai tentando reescrever a narrativa, adaptando-a ao desastre que as suas políticas imprudentes desde o início anunciavam mas que o foguetório populista das reversões ia distraindo.
Agora está cada vez mais difícil de disfarçar o que aí vem. E o governo já anda a propagar o novo guião: nós estamos a fazer tudo certo mas isto vai mesmo falhar porque à nossa volta tudo corre mal. Ele é a procura externa que arrefeceu, com as exportações para Angola e o Brasil a derraparem. Ele é as sanções que nos querem impor e as demais malvadezes de Bruxelas. Ele é o Brexit e as suas consequências para a nossa economia. Ele é o terrorismo... Enfim, o rol de desculpas de Costa são desgraças que nunca mais acabam. Mas a verdadeira desgraça de António Costa está a germinar bem próximo dele e graças a ele. Chama-se Bloco de Esquerda.
Catarina Martins, na convenção do fim-de-semana, deixou bem clara a sua estratégia, tipo " first we take Manhattan, then we take Berlin". O governo socialista é cada vez mais o cavalo de Tróia do ambicionado governo bloquista. Costa ainda anda convencido de que tem tudo debaixo de controlo. Mas as rédeas estão cada vez menos nas suas mãos.