Todos reconhecemos ao PCP uma das mais fortes marcas identitárias do sistema político português. Uma marca forjada ainda antes deste regime e que, bem ou mal, nestas quatro décadas de democracia, se tem mantido como uma espécie de irredutível aldeia gaulesa do comunismo europeu.
Goste-se ou não, é de se tirar o chapéu à constância do posicionamento do PCP, à sua resistência à mudança, ao seu compromisso dialéctico com a História. Admito que a sua ortodoxia pode até ter um certo charme, e o seu discurso tem sempre aquela espécie de patine política que agrada muito a velhos e novos revolucionários. Diz-se, de resto, que do PCP sabe-se sempre o que esperar, tal é a imutabilidade das suas posições e das suas reivindicações.
Isso explica, em parte, que este partido tenha conseguido, ao longo do tempo, manter quase intacta a sua base de apoio e, com isso, uma votação consistente em praticamente todas as eleições. Tal só é possível porque o PCP tem sido intransigente a defender a sua marca, ao contrário, por exemplo, do Bloco de Esquerda que, por ser um sortido de submarcas da esquerda radical, nunca teve uma marca própria e forte para defender.
Contudo, em menos de vinte dias de governo socialista, o PCP tem feito verdadeiros números de contorcionismo para se adaptar à "posição conjunta" que assumiu com o PS. Também aqui, o BE mostra ser mais um bloco de plasticina do que um bloco de convicções e até agora tem achado tudo muito bem e muito satisfatório. Vejamos dois exemplos: a eliminação da sobretaxa de IRS e o aumento do salário mínimo nacional. No primeiro caso, o PCP exigia a eliminação total da sobretaxa já em 2016.
O PS não aceitou. Depois propôs a eliminação total para os dois primeiros escalões. O PS também não aceitou. Não restou ao PCP senão vergar-se à vontade do PS. No caso do SMN, a palavra de ordem era 600 euros no próximo ano. Mais uma vez, o PS não só não aceitou (atirando esse valor para 2019), como voltou a tirar da cartola uma descida da TSU para as empresas, pisando alegremente uma das mais marcantes linhas vermelhas destas esquerdas.
Será que António Costa está mesmo convencido que transforma o PCP na marca branca deste PS de conveniência? E se sim, até onde, até quando e por que preço?