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Luís Campos Ferreira

Quanto mais se desTAPa, mais se descobre

Costa não pode continuar calado depois de tudo o que se passou debaixo das suas barbas.

Luís Campos Ferreira 6 de Abril de 2023 às 00:30
A declaração pungente de Christine Ourmières-Widener de que não fazia ideia, quando assumiu o cargo de presidente executiva da TAP, de que iria ser alvo de uma pressão política tão grande dá-nos a exata noção de como a companhia aérea se transformou na principal coutada do governo socialista, ou melhor dizendo, do Estado socialista.

Não me lembro, em décadas de vida democrática, de uma empresa pública que tenha sido tão instrumentalizada e governamentalizada como a TAP tem sido nestes últimos anos, desde que António Costa e os seus então parceiros de geringonça decidiram, desgraçadamente, reverter o processo de privatização que estava em curso.

Nem a RTP, com a sua natureza tão sensível e cobiçável, foi tão ostensivamente sequestrada pelo poder político, nestes tempos mais recentes.

No momento em que escrevo este artigo ainda não (re)entrou em cena a ex-administradora e ex-secretária de Estado Alexandra Reis. Mas não ficarei espantado se a sua audição na comissão de inquérito à tutela política da TAP trouxer ainda mais motivos de perplexidade e indignação, especialmente se a gestora destapar todos os contornos (e intervenientes políticos) que envolveram a sua milionária indemnização.

Seja como for, o que se ficou a saber da boca da demissionária CEO da TAP já é motivo mais do que suficiente para que os portugueses estejam completamente estupefactos com a forma como o governo se intromete na gestão da companhia aérea. Uma intromissão tão descarada e descabida que vai ao extremo de um secretário de Estado pedir à presidente da empresa que altere um voo com 200 pessoas para, alegadamente, agradar ao “aliado” Presidente Marcelo.

O rol de revelações feitas por Christine Ourmières-Widener é, como se sabe, extenso e de enorme gravidade política. Se alguns dos principais protagonistas políticos envolvidos já não estão no governo (caso do ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos e do seu secretário de Estado Hugo Mendes), outros há, como Fernando Medina, João Galamba e Ana Catarina Mendes, que incompreensivelmente ainda lá estão. Mesmo depois de tudo o que se ficou a saber.

E isso leva-nos ao elefante que não está na sala. Aliás, nunca está na sala, sempre que há problemas. António Costa não pode continuar calado depois de tudo o que se passou debaixo das suas barbas. É obrigatório dar a cara.
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