Perante a pobreza, as pessoas assumem posições diferentes, consoante as convicções individuais.
O religioso reza e dá uma esmola que vai logo contabilizar no deve e haver da sua relação com o Deus da sua fé. Ele sabe que quem dá aos pobres empresta a Deus e, portanto, aquela dádiva irá ser, mais tarde, contabilizada a seu favor. Mas para ele, a pobreza resulta de um desígnio divino e, portanto…
O artista, esse, faz um poema pungente, pinta um quadro exaltante ou compõe uma cantata ou uma sinfonia inesquecíveis que o imortalizam, mas rapidamente esquece a causa da inspiração.
O político conservador proclama que a pobreza é o resultado da falta de desenvolvimento e logo propõe combatê-la com políticas que aumentam a riqueza dos ricos. O progressista faz um discurso, aliás magnífico, sobre as desigualdades sociais e propõe-se eliminá-las com novas políticas de rendimentos, mas para isso precisa de vencer as eleições, o que não acontece, pois, no passado, os resultados dos seus governos foram sempre menos investimento privado, mais impostos, mais desemprego, mais despesa pública e mais... pobreza.
O revolucionário apela à revolução social, cujo triunfo (só possível sob a vanguarda do seu partido) acabaria com os ricos, traria a abundância generalizada e, consequentemente, a felicidade geral do povo. Enfim, seria o Paraíso na terra.
No final, porém, todos seguem em frente e rapidamente esquecem a causa das suas proclamações. E, triunfante, a pobreza lá continua, apesar dos discursos. Todos têm soluções para ela, mas ninguém ainda foi capaz de a erradicar em Portugal.
A pobreza não é só um problema dos pobres, mas de todos nós; é um problema político e, portanto, a sua eliminação é uma questão de cidadania. Por isso, não devemos esperar pelo desenvolvimento económico para a combater com as migalhas da riqueza aumentada, mas ter a coragem política de criar um programa político que dê um sentido prioritário e estratégico à sua erradicação. A luta contra a pobreza é um poderoso fator de desenvolvimento económico e social.
Protagonistas
Comemoraram-se na passada semana os duzentos anos da batalha de Waterloo, em que Napoleão Bonaparte foi derrotado por exércitos comandados pelo general Wellington. No entanto, a história destes dois séculos esqueceu os vencedores e transformou derrotados em vencedores. O general inglês é hoje uma figura menor, enquanto Napoleão se transformou numa estrela.
Cruzes e ladrões
Às vezes, despertado do torpor da história por tumultos desgarrados das pequenezes do lusitano quotidiano, lembro-me, sem saber bem a que propósito, desta quadra do séc. XIX, cuja atualidade nos entra pelos olhos adentro: "No tempo em que os homens justos governavam/Os ladrões em cruzes penduravam./Mas hoje que estamos na época das luzes/No peito de ladrões penduram cruzes!"