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António Marinho e Pinto

Carta às crianças

Tentem não crescer, mas se não conseguirem, ao menos, não aprisionem nunca a criança em vós. Libertem-na de vez em quando.

António Marinho e Pinto 1 de Junho de 2015 às 00:30

Olá, crianças de Portugal! Escrevo-vos para vos saudar, neste vosso dia, e para me solidarizar convosco pelas incompreensões de que sois vítimas por parte dos vossos pais. Peço-vos que tenhais paciência com eles, pois, apesar de gostarem de vós, têm um grande defeito: são adultos. Para estes, as crianças nunca têm razão e têm de ser sempre muito educadinhas, isto é, domesticadas e amestradas a fim de se tornarem normopatas bisonhos como eles (a normopatia é a pior doença dos adultos saudáveis).

Têm a mania que sabem tudo e nunca perguntam nada pois não querem corrigir a ignorância mas escondê-la. Eles acham que tudo o que vós fazeis está errado, tudo o que quereis faz mal ou é pecado e tendes de andar vestidinhas como bonecas com aquelas roupas pirosas a que eles acham graça. Tendes também de ir dormir cedo e de acordar cedo porque eles não percebem que deitar cedo e cedo erguer dá... cabo das crianças (e nem a eles faz bem).

Tentem não crescer, mas se não conseguirem, ao menos, não aprisionem nunca a criança em vós. Nem que seja às escondidas, libertem-na de vez em quando com risadas bem esticadas, indomável vontade de brincar e infinita alegria de viver. Façam como um grande poeta português que dizia que o melhor do mundo são as crianças e só era poeta e grande porque nunca deixou de ser criança e brincava como ninguém com coisas sérias.

Só há uma coisa boa nos adultos. Com a idade ficam lúcidos de mais para continuarem adultos e passam a idosos, tornando-se, em regra, avós. Os adultos dizem que eles entraram na terceira idade, mas entraram na segunda infância, pois, como já não tinham mais pachorra para serem adultos, voltaram a ser crianças. Os adultos acham-nos ridículos pois não entendem que só se é verdadeiramente avô quando se é ridículo com os netos.

Termino, dizendo-vos que podem contar sempre comigo. Sei que se vós mandásseis não haveria guerras, terrorismo, injustiças, miséria e a vida seria uma eterna brincadeira cheia de gargalhadas infinitas. Abaixo os adultos! Todo o poder às crianças! Já!

Post Scriptum - Cada uma de vós só existe pois foi gerada na barriga de uma mulher, onde um homem pôs a sementinha da vida que virou embrião e depois um feto que após nove meses nasceu bebé, o qual cresceu até chegar à perfeição de criança. A mulher em cuja barriga andou é a mãe e o homem que lá pusera a sementinha é o pai. Se as coisas não foram exatamente assim, então algo não correu bem.

Casos de guerra - A Europa trata quem foge da guerra, miséria e morte, na África e no Médio Oriente, como um caso militar e mandou navios de guerra para afundar os barcos em que tentam atravessar o Mediterrâneo. Também, há alguns anos, um governo PSD/CDS mandara um navio de guerra contra um barco de mulheres da Women on Waves que vinham armadas até aos dentes com… pílulas abortivas. 

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