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António Marinho e Pinto

Congresso do apagão

O grande problema é que este caso suscita paixões exacerbadas.

António Marinho e Pinto 8 de Dezembro de 2014 às 00:30

Quem assistiu ao congresso dos socialistas portugueses realizado no fim da semana passada ficou com a ideia de que o novo líder António Costa sucedeu a António Guterres, dado o apagão sobre os nomes e as lideranças de José Sócrates e de António José Seguro. O silêncio sobre a prisão de Sócrates foi ensurdecedor e só pode significar o medo que se apossou dos novos dirigentes do PS pelo que se está a passar com o antigo líder do partido. Tratou-se de um ato primário de fingimento, tanto mais incompreensível quanto é certo que a sua prisão é inquestionavelmente um facto político.

Com efeito, a prisão de Sócrates é um acontecimento que pertence tanto à justiça como à política. Tem a ver com todos nós. Não é apenas um problema do cidadão que está preso; é, sobretudo, do partido e do país que ele governou. Não é apenas do passado, é também do presente e, principalmente, do futuro. Por isso, enquanto esta questão não estiver resolvida, o PS ficará numa espécie de quarentena política. Mais do que escutar José Sócrates, o país precisa, urgentemente, de ouvir o que tem a dizer o PS.

Sejamos claros: ou Sócrates está inocente ou é culpado. Não há outra solução para o problema criado com a sua prisão. Sócrates é daqueles suspeitos sobre os quais não poderá haver meios-termos. Se é inocente, então devemos mobilizar-nos todos para acabar de uma vez com esta justiça e correr com este tipo de magistrados. Mas se é culpado, então o PS deve dar, rapidamente, explicações ao país, sob pena de poder ser ele a desaparecer como aconteceu na Grécia com o PASOK do clã Papandreou ou na Itália com o PS do capo Betino Craxi.

Meter a cabeça na areia ou tentar esconder-se atrás da sua própria sombra pode agradar muito ao séquito clientelar que rodeia a direção socialista, mas é cada vez mais incompreensível para um povo que já não suporta esta forma de fazer política.

O grande problema é que este caso suscita paixões exacerbadas. São poucas as pessoas que querem a verdade dos factos. A grande maioria já proferiu, sumariamente, o seu veredicto de condenação ou de absolvição de José Sócrates, e, por isso, apenas quer a ‘sua’ verdade, ou seja, aquela verdade (ou a parte dela) que confirme as suas certezas.

Diplomacia e sindicalismo

A diplomacia económica, que serve para facilitar negócios, é tráfico de influências?
Leio num semanário a imputação a José Sócrates do crime de tráfico de influência por alegadamente facilitar negócios a empresas portuguesas no estrangeiro. Essa prática já a vi imputada a governos de direita, nomeadamente a Paulo Portas, sob a designação de diplomacia económica.

Qual a validade dos recursos quando tribunais estão unidos pela camaradagem sindical?
Anda toda a gente muito agitada com os recursos das decisões dos juízes do TIC. Santa ingenuidade! Que validade terão os recursos num sistema judicial em que os juízes dos tribunais superiores estão unidos aos colegas dos restantes tribunais pelo cimento da camaradagem sindical?

Prisão preventiva e julgamento

Em Portugal pode-se ficar vários anos na prisão sem um veredicto de culpabilidade?
Uma Pessoa em Portugal pode ficar mais de quatro ano em prisão preventiva, ou seja, sem que sobre ela tenha sido proferido um veredicto definitivo de culpabilidade. Qual o juiz que teria coragem para desautorizar um colega absolvendo uma pessoa depois desse tempo todo na cadeia?

Lógica trucidante: detém-se para interrogatório porque facilita a prisão preventiva
Detém-se uma pessoa para interrogatório porque isso facilita a aplicação da prisão preventiva. Aplica-se a prisão preventiva porque assim fica mais difícil absolver o arguido em julgamento. Em caso de erro, condena-se o arguido a uma pena de prisão igual ao tempo de prisão preventiva.

Bloco de notas

Coincidências Quando, há 12 ou 13 anos, dirigentes do PS tentavam encalacrar o então ministro Paulo Portas com recordações da Universidade Moderna, rebentou miraculosamente o processo Casa Pia. Mais recentemente, quando se intensificava o aperto ao vice primeiro-ministro Paulo Portas com evocações do negócio dos submarinos, rebentaram miraculosamente o processo dos ‘vistos gold’ e a ‘Operação Marquês’ com a prisão de José Sócrates.

Negligência Parti segunda-feira da semana passada para Bruxelas num voo da TAP. Despachei a minha mala, levando apenas como bagagem de cabine uma pasta com o meu portátil e alguns papéis. Ninguém me avisou de que havia uma greve no aeroporto. Conclusão: a TAP só me entregou a mala em Bruxelas, três dias depois. A TAP deveria ser mais cuidadosa e diligente com os seus passageiros.

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