As autoridades alemãs decidiram investigar o caso e rapidamente concluíram que, sim senhor, houvera subornos.
Há cerca de dez anos, os governos dos dois países mais pobres da União Europeia, Portugal e a Grécia, gastaram mil milhões de euros, cada um, em armamento sofisticado. Cada país comprou, então, dois submarinos topo de gama. Um consórcio francês e outro alemão candidataram-se a vender a mercadoria, mas ambos os países escolheram o alemão.
Muita gente se indignou, então, pois entendia que deveria ter havido um debate nacional sobre a necessidade desse armamento ou sobre se a quantia astronómica que ele custava não seria mais bem empregue noutros serviços públicos, tanto mais que o ministro da defesa andara antes das eleições a fazer promessas aos idosos, chegando até a ir, de madrugada, para filas de utentes nos centros de saúde. Mas nada! O primeiro-ministro e o ministro da Defesa mantiveram-se inflexíveis quanto à realização do negócio. E ele, claro, consumou-se.
Na altura falou-se que havia subornos mas, como sempre, não havia provas. Porém, algumas vozes continuaram a questionar o negócio e sobretudo a falar de indícios de crime. Então, as autoridades alemãs decidiram investigar e rapidamente concluíram que, sim senhor, houvera subornos. E mais: que, para ser escolhida, a empresa vendedora dos submarinos pagara 30 milhões de euros aos gregos e outros 30 milhões aos portugueses. E acusaram, julgaram e condenaram os administradores dessa empresa por um crime que, entre nós, corresponderia a corrupção ativa.
As autoridades da Grécia também investigaram e logo descobriram o lado grego do binómio, ou seja, quem é que tinha sido corrompido. E então prenderam, julgaram e condenaram o seu ministro da Defesa a 25 anos de prisão. Em Portugal, porém, nunca se descobriu nada e o ministro português da Defesa que comprara os submarinos é hoje o "irrevogável" vice-primeiro-ministro que todos conhecemos.
Síntese para distraídos: A justiça alemã condenou cidadãos alemães por corromperem cidadãos gregos e portugueses. A justiça grega condenou pelo menos um cidadão grego, nada mais que o seu antigo ministro da Defesa, por se ter corrompido; a justiça portuguesa anda, há mais de cinco anos, a tentar descobrir quem é que, em Portugal, foi corrompido. Portugal é mesmo um país esplendoroso!
Negócios em que não houve crime
Na véspera das eleições, ministros atribuem a urbanização de luxo interesse público.
Portucale: Em 2005, nas vésperas de eleições, dois ministros do CDS e um do PSD atribuem a uma urbanização de luxo, em reserva ecológica, o interesse público que vinha sendo negado nos 15 anos anteriores. Nesse dia, são abatidos mais de mil sobreiros. O MP investigou, mas concluiu que… não houve crime.
Edifício é vendido de manhã por 14 milhões e à tarde é revendido por 19 milhões.
Edifício dos CTT: Um edifício público é vendido, às 10 horas, por cerca de 14 milhões de euros e às 15 horas do mesmo dia é revendido por cerca de 19 milhões de euros. Logo a seguir, os revendedores levantam um milhão de euros em dinheiro que desaparece. Os tribunais concluíram que… não havia crime.
Cultura da investigação criminal
Ataque aos principais centros de corrupção financeira no País não passou das notícias.
Operação furacão: Megaprocesso judicial que apenas agitou a comunicação social apesar de ter sido anunciado como um ataque aos principais centros da corrupção financeira em Portugal: bancos. Não passou das notícias, muitas delas controladas pelas agências de comunicação dos bancos visados.
Em Portugal, primeiro prende-se e, depois, procuram-se as provas do crime.
Investigação: Em Portugal, a investigação criminal faz-se, não para descobrir a verdade, mas para provar a verdade que já está na cabeça dos investigadores. Faz-se para a comunicação social. Primeiro prende-se e, depois, procuram--se as provas do crime. O resultado dessa cultura está à vista.