O ministro das Finanças ganha quase dez vezes menos do que o presidente da Caixa Geral de Depósitos a quem dará posse.
Paulo Macedo irá ganhar muito mais do que recebia enquanto ministro da Saúde, mas o seu chorudo salário será dez vezes menor do que o auferido por Jorge Jesus num clube à beira da falência técnica.
Afinal, que elite política queremos para uma boa gestão dos nossos impostos?
O discurso neopopulista chegou a Portugal pela voz de Manuel Monteiro e cérebro de Paulo Portas no início dos anos 90 do século passado. Desde então, não parou o movimento que retira rendimentos e garantias de reforma aos políticos. Com o natural aplauso do Povo. Este fenómeno de chicote sobre os mais altos decisores públicos tornou o País melhor, mais rico, com gestão mais virtuosa? Não.
Em Portugal, a vantagem de ser ministro é um dia poder ser ex-ministro e então beneficiar, no mínimo, dos conhecimentos adquiridos quando se devia unicamente servir a coisa pública. A política tornou-se um meio para atingir outros fins. Ficou refém de interesses privados, na área financeira e económica. O tumor não é só português, veja-se o caso recente de Durão Barroso, após a presidência da Comissão Europeia.
Vão vinte anos sobre o caso de um ministro que montou a si mesmo uma cilada mediática, com a fuga ao pagamento de uma sisa, de forma a poder entregar a demissão ao líder do Governo e depois encontrar um lugar de topo numa empresa.
Regressar a um cargo que lhe permitisse pagar as contas da casa e dos filhos a estudar.
Se os nossos políticos, em cargos executivos, no Governo e Poder Local, fossem mais bem pagos, com prémios anuais por boa gestão dos orçamentos que gerem, e se, cumulativamente, houvesse mecanismos legais de controlo e penalização exemplar dos que saem do caminho justo, Portugal seria certamente um país mais rico e financeiramente mais sustentável.
A elite política voltaria a médio prazo a merecer esse nome, elite.
Assim, com os políticos em lugares executivos de topo, por natureza voláteis, a serem remunerados como qualquer quadro superior de uma média empresa, as democracias tendem para o abismo, por falta de qualidade das decisões sobre os milhares de milhões arrancados anualmente em impostos e sobre a riqueza pública que ainda resta. Sempre delapidada por decisões de que só temos conhecimento tarde demais.
Recusar olhar para esta dura realidade é enterrar a cabeça na areia dos populismos, de extrema-esquerda ou direita, até que cheguem os salvadores das pátrias que, como sempre, acentuarão a histórica máxima dos vícios privados, públicas virtudes.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt