O asfixiante programa de austeridade protagonizado pela direita e a memória recente da liderança de Sócrates levaram os portugueses a deslocar o seu voto para a esquerda, mas sem o concentrarem no PS.
O Bloco beneficiou deste fenómeno e da figura da sua líder, Catarina Martins, que trouxe para o palco político as técnicas do teatro a que se dedicou na juventude.
Palavras pronunciadas, sílaba a sílaba, no tom certo, um olhar límpido, a estratégia de aproximação ao PS e de apaziguamento com o PCP permitiram ao Bloco um resultado histórico.
A leitura da vontade dos portugueses feita por Costa, para chegar ao poder, deixou nas mãos do Bloco uma fatia da decisão sobre o nosso futuro coletivo. Sem experiência autárquica ou sindical que lhes dê saber acumulado sobre o seu exercício, as dirigentes do Bloco olham para o poder como uma criança para um brinquedo novo. Uma criança hiperativa, diga-se.
É neste quadro que devemos ler os incidentes passados e futuros em torno do Orçamento do Estado para 2017. E esperar com ansiedade curiosa o que nos trará um novo ciclo político após as autárquicas.
Perante este alargado grupo de estalinistas e trotskistas, instrumentalmente juntos num Bloco, até os pontos mais anacrónicos e radicais do programa eleitoral da CDU deixam qualquer eleitor moderado tranquilo e apaziguado pela prática de um partido sólido, mesmo com a sua especial interpretação do necessário sentido de Estado.
Uma vez no poder executivo nacional, ninguém sabe se o PCP juntaria criação de riqueza com o bico, mas é já seguro para os portugueses que o Bloco tudo esbanja com as patas.
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