Passou um semestre da posse das novas chefias da RTP. Tempo de balanço. A administração distinguiu-se pelo perfil de baixa intensidade, que compara bem com o demagógico presidente anterior, mas o silêncio também indica que não houve decisões importantes e persiste o modelo de sempre da empresa pública. A mesma burocracia à antiga, os mesmos grupos internos lutando por si e não pelo interesse público, a mesma impossibilidade duma reforma profunda — única forma de adequar rapidamente a RTP à necessidade actual do serviço público.
Quanto à informação, a escolha da nova direcção não poderia ter sido mais ajuizada: Paulo Dentinho e Vítor Gonçalves são dois jornalistas profissionais (o que já é muito) e independentes (o que é dizer muito mais). As diferenças para melhor na informação vão-se notando. Desapareceram os políticos ‘comentadores’. Os noticiários estão mais sóbrios e respeitando os valores jornalísticos mais nobres. Os únicos ‘incidentes’ em torno da informação resultaram de autopromoções infantilóides e irresponsáveis de Gonçalo Morais Leitão, contratado apenas, imagine-se, para melhorar essas mesmas autopromoções.
Quanto aos programas, a direcção da RTP 2 consegue fazer algumas omeletes sem ovos, mostrando ser possível melhorar com parco orçamento. Se houvesse estratégia de serviço público moderno, a administração teria reforçado o orçamento da 2 e diminuído o da 1, mas prefere manter o modelo de sempre.
E com que resultados: a RTP 1 é um desastre enquanto conteúdos de interesse público e, pela programação futura apresentada há dias, assim continuará. Nuno Artur Silva, administrador mas o verdadeiro director de programas, revela o bluff profissional que sempre foi. Foi grande, sim, como manobrador dos gestores políticos e na sua autopromoção, quando dirigia uma empresa de humoristas que levou à falência, e a dirigir um canal, o Q, que foi um fracasso. Talvez por isso o convidaram para a administração. Agora, entrega programas a todos os seus amigos, para fazer uma programação sem arrojo e tipo anos 80 ou 90.
Estas foram as opções do governo e das elites de ‘esquerda’ e de ‘direita’ representadas no Conselho Geral Independente (CGI) que agora comanda a estratégia do operador público. Têm o que querem: uma RTP 1 sem qualquer relevância e sem qualquer interesse público e, ainda, populismo a reboque dos privados. Mas também vão tendo o que não querem: menos audiência, o pesadelo para aquelas cabeças. O povo espectador vai decidindo por elas o futuro desta RTP.
ERC preguiçosa e suspeita
A ERC precisou de três anos para decidir sobre uma malfeitoria qualquer da TVI numa das ‘Casa dos Segredos’. Tratava-se de uma cena qualquer desta actividade televisiva, que acontece 24 horas por dia, com mudanças regulares de programas, e que atinge milhões de pessoas.
Entretanto, a ERC ‘apressou-se’ a dar ordens aos media sobre o processo de apresentação jornalística de sondagens. É do que ela gosta, decidir como os outros devem agir. Emitiu essas ordens, que, a serem tomadas, deveriam ter surgido há meses, três dias antes do fim da campanha eleitoral, como que para ajudar alguém. É isto uma entidade que emana do parlamento e finge que regula com independência o campo mediático.
Praça vazia antiga e triste
Uma das ‘novidades’ da RTP 1 é o reaparecimento da ‘Praça da Alegria’. Até agora, sem resultados positivos. A RTP cedeu ao lobby dalguns autarcas da região do Porto e piorou o talk show matinal. A empresa não tem orçamento para conseguir fazer o programa ali como o faria em Lisboa. Ceder ao populismo dá nisto.
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