Já não somos lixo. Na verdade, nunca fomos. Um povo que passou o que este passou, anos seguidos penalizados por culpa alheia e muitas vezes por motivos que não entendia, e que mostrou a resiliência e a dignidade que nós mostrámos, nunca poderia ser classificado como tal.
Mas as regras do mundo e das finanças têm estes rótulos, que nós até adotamos pior do que na origem (o termo das agências é "investimento especulativo", o jargão lixo nunca é referido por qualquer delas, para não ferir suscetibilidades).
Agora que a Standard & Poor’s, uma das mais poderosas agências do mundo, nos promoveu de novo à primeira divisão, é uma questão de tempo até as outras fazerem o mesmo. É justo. O problema pode ser o ‘timing’. É que às portas do Orçamento do Estado, com decisivas negociações ainda em curso, a boa notícia passa a imagem de que estamos, de novo, na terra onde corre leite e mel.
O que significa um caderno de reivindicações ainda mais exigente do que o habitual pela esquerda, dada a nova margem que, infelizmente, não existe. A subida do ‘rating’ é condição essencial, mas não suficiente, para a melhoria da situação do país.
Centeno sabe-o. Irá agir em conformidade ou ceder aos parceiros parlamentares?